Rei, esposa morganática,
& emigração protestante.
As Casas Reinantes na antiga Europa eram por demais
fecundas.
Raros eram os Soberanos que não tinham Herdeiros para
seus Tronos.
Um ou outro porque era estéril, ou sua esposa era.
Contudo, havia sempre uma penca de irmãos, de sobrinhos,
de onde podiam sacar um novo Herdeiro para a Coroa.
Em alguns casos havia a Tradição da Lei Sálica e como
sempre a Historia acabava em Guerras entre os aspirantes ao Trono.
Mais, havia os que eram dados, até por demais, aos
prazeres da carne, verdadeiros ‘atletas do sexo’.
Essa condição de garanhão, na linguagem popular, era um
grande contrassenso, afinal eles eram Soberanos por Direito Divino segundo a
Tradição da Igreja e ela ensina que só se deve ter relações sexuais com o
intuito de procriar dentro do casamento realizado no seio da chamada Santa
Madre Igreja, mas vamos lá, cada cabeça que tenha a sua sentença.
Um bom exemplo é o nosso Luiz XIV, Rei de França e de
Navarra, Majestade Cristianíssima, ‘de la maison de Bourbon de la dynastie capétienne’.
Só uma curiosidade:
Louis Dieudonné, nome que quer dizer ‘o presente de
Deus’, era um daqueles que não gostava de tomar banho, e só como medicamento
tomou três na vida.
Fagon, seu médico, descreve o resultado do’ tratamento
por banho’ que ele receitou para Sua Majestade:
“O paciente passou por tremores, ataque de fúria,
movimentos convulsivos...seguidos de erupções, manchas vermelhas e roxas no
peito”. Fonte: ‘Journal de la Sante du Roi Louis XIV (1647-1771) de A. d’Aquin,
GCFagon, a. Vallot. Paris 1862.
Semivestido ele usava a ‘retrete’ – uma cadeira com
pinico- na frente de membros da Família Real, de Monsieur, dos Príncipes de
Sangue, dos Duques e dos Altos Dignitários ‘de la Cour à Versailles’, dos
médicos, dos serviçais, etc. e tal.
Como sofria de prisão de ventre era fã das lavagens
intestinais, nas quais eram utilizadas cânulas e seringas, e as ‘tomava’ na
frente do seleto grupo já citado.
Necessidades feitas, um camareiro o limpava por três
vezes com paninhos cortados para tal fim, não existia papel higiênico, nem era
levado um bidê para Sua Majestade se lavar, donde podemos concluir que não era
lá muito higiênico tal ato, e que de cheiroso não tinha nada.
Além do que Luís de Bourbon-Capeto suava demais, tinha
que viver trocando de ‘roupa branca’, pelo menos quatro vezes por dia, por
isso, e só por isso, era considerado um homem limpo, pois naquela época se
acreditava’ na roupa branca que limpa’.
É claro que já se tinha o perfume, mas não existia o
desodorante, donde se conclui que devia ter um cheiro de çeçe que não devia ser
‘bolinho’, alias Luís era alérgico a perfume, detalhes abaixo.
Diariamente cinco médicos vinham ver o Rei, foram eles Jacques
Cousinot, François Vautier, Antoine Vallot, Antoine de Aquino, Guy-Crescent
Fagon até a morte do rei, todos usando e abusando das sangrias e das lavagens
intestinais, as purgas com os terríveis clisteres, 5.000 em 50 anos de vida,
pois era purgado todos os dias.
Com seu ânus sangrava devido as hemorroidas, vivia usando
emplastros ou pomadas para evitar maiores sangramentos.
Uma purga no
século XVIII.
Museu Nacional do Azulejo,
Lisboa
Luís tinha um forte mau hálito por causa de seus
problemas dentários, tanto que para falar com suas amantes, ele colocava um
lenço perfumado na boca, mas como era alérgico a perfume, só suportava o de
Flor de Laranjeiras, isso segundo seu dentista Dubois.
Luís teve e tinha:
1- Varíola em 1647.
2- Problemas
estomacais e disenteria, doenças dolorosas e crônicas, devido a seus hábitos alimentares.
3- Tumores:
um no mamilo direito cauterizado em janeiro 1653.
4- Gonorreia
desde da mocidade: mantido em segredo.
5- Vapores
na cabeça (forte dor de cabeça) e dor nas costas – coluna- frequente.
6- Espinhas
por toda a face e outras partes do corpo.
7- Gangrena,
que iniciou nos dedos do pé, já perto da morte.
8- Febres.
9- Dor de dente, os seus dentes lado superior
esquerdo foram cauterizados várias vezes a picos de fogo (para suportá-lo
líquidos eram introduzidos através do nariz).
10- Fístula
anal que será operada pelo cirurgião Felix, em novembro 1686.
11- Problemas
urinários: cálculos renais o que fazia com que ele tivesse uma micção dolorosa.
12- Gota:
ataques insuportáveis no pé direito e no tornozelo esquerdo, considerada por
todos como “ uma verdadeira tortura”.
Luís XIV sofria tanto das hemorroidas que em pleno século
XVIII sofreu uma intervenção cirúrgica para extirpá-las.
Essa operação era tão delicada que o Clero de toda a
França foi convocado a rezar para o seu bom sucesso.
Não fiquem surpresos, mas aquele que se igualava ao SOL,
pedia as pias senhoras, ou senhoritas, aos padres e aos nem sempre austeros
monges, que intercedesse ao Deus dos Cristãos, dos Judeus e dos Huguenotes,
esse último povo e pessoas aquém tanto odiava, que o salvasse de todos os
males.
Madame de Maintenon, esposa morganática do Monarca,
escreveu aos responsáveis em Saint-Cyr da Maison Royale de Saint-Louis, uma Instituição
fundada por Louis Dieudonné a seu pedido para educar filhas de nobres e que era
dirigida por freiras, apesar de a Escola não ser convento, o seguinte:
« ...mas o Rei se portou muito bem é muito corajoso’.
Como podemos ver se salvou, mas eu acredito que o
‘cheirim’ continuou, pois, a descrição de sua morte prova o que agora escrevo.
Mas apesar disso TUDO, Sua
Majestade era o que chamamos de ‘ o garanhão’, não podia ver uma nova jovem da
nobreza na Corte que já arrastava, como um bom ‘coq gauloise’, um galo gaulês,
as suas asas.
Amante teve várias, a Grande
Historia fala delas.
Filho bastardo os teve muitos
e a todos legitimou.
E foi por causa “des les
enfants légitimes du roi de France” que a já citada, Françoise d’Aubigné, viúva
do poeta burlesco, o paralitico Paul Scarron, com quem casou pobre e aos 16
anos por sobrevivência, e ficou casada de 1652 a 1660, nascida em 27 de
novembro 1635, na prisão de Niort, onde seu pai foi preso por ordem do
Cardeal-Duque de Richelieu.
Ela era filha de Constante
d'Aubigné, outro debochado, “ que assassinou sua primeira esposa com seu amante
em 1619”, e de sua segunda esposa Jeanne Cardilhac.
Constante d'Aubigné era filho
de Theodore Agrippa d'Aubigné, um calvinista intransigente, famoso poeta e
amigo de Henrique IV, Rei de França e de Navarra, aquele que dize “ Paris vale
uma missa”.
Agrippa d'Aubigné ficou
conhecido graças a sua obra Les Tragiques, onde as Guerras da Religião são
contadas, bem como as perseguições aos huguenotes, bem como “a punição dos
conspiradores de Amboise e o Massacre de São Bartolomeu”.
“Após a morte de Richelieu, a
família foi para as Antilhas francesas, onde d'Aubigné foi nomeado governador
de Marie-Galante, embora ele e sua família permanecessem na Martinica.
D'Aubigné retornou para a França por volta de 1645, quase na miséria, e morreu
em 1647. Sua esposa e filhos retornaram à França do mesmo ano”.
Vida nada fácil da pequena
huguenote, mas podia ter sido pior.
Na volta da Martinica, a irmã
de seu pai, Louise Arthemise d’Aubigné, ou Madame de Villette, fervorosa
calvinista, deu mais uma vez abrigo a Françoise em seu Château de Mursay, em
Deux-Sèvres, hoje na região Poitou-Charentes .
“ Sua madrinha, Madame de
Neuillant, uma fervorosa católica, pediu a Rainha-mãe Ana da Áustria uma lettre de cachet para que ela cuidasse
de Françoise e que, também, a permitisse praticar o catolicismo, e assim
abjurar a Fé calvinista. A moçoila foi para num convento das Ursulinas, e “onde,
graças à doçura e carinho de uma freira, a Irmã Celeste, a menina finalmente
cedeu calvinismo. Agora católica passou a acompanhar sua madrinha, Madame de
Neuillant, nos Salões Literários parisienses”.
Num deles conheceu seu grande
instrutor, Antoine Gombaud, chevalier de Méré, um escritor que a apelidou de «
la belle Indienne », a Bela Indiana, pois a Martinica ficava nas Índias
Ocidentais francesas, e oficialmente ela tinha vindo de lá.
Le poète Paul
Scarron, premier mari de Françoise d'Aubigné
Paul Scarron morreu e só
deixou dividas, mas ela, com ele, adquiriu grande cultura.
Pensionista do Rei, ganhava
uma pensão de 2.000 libras, mais uma vez por favor da Rainha-mãe Ana da Áustria.
E por três anos foi amante de Louis
de Mornay, Marquês de Villarceaux, que a pintou desnuda.
Portrait de
Françoise d'Aubigné,
par le marquis de
Villarceaux
entre 1663 e 1664
Através de César Phébus
d'Albret, chevalier des ordres du roi, Marechal de França, e outros Títulos,
conheceu a prima desse, a famosa Maîtresse-en-titre du Roi, Françoise Athénaïs
de Rochechouart de Mortemart, ou seja, Madame de Montespan, mãe “des les
enfants légitimes du roi de France”, a saber:
Luís Auguste de
Bourbon, Duque de Maine, casado com Anne Louise Bénédicte de Conde;
Luís César de
Bourbon, Conde de Vexin, abade de Saint-Germain-des-Prés;
Louise Françoise de
Bourbon, Mademoiselle de Nantes, casou com Luís III de Bourbon-Condé, Duque de
Bourbon, sexto Príncipe de Conde;
Louise Marie Anne de
Bourbon, Mademoiselle de Tours;
Françoise Marie de
Bourbon, o segundo Mademoiselle de Blois, que se casou com Felipe d´Orleans,
futuro Regente durante a minoridade de Luís XV;
Louis Alexandre de
Bourbon, Conde de Toulouse.
Bonne de Pons, Marquesa d’Heudicourt,
nascida protestante, como Madame de Maintenon, mas abjurou e se converteu ao
catolicismo por conveniência, sobrinha do Marechal d'Albret, foi quem sugeriu Françoise
d’Aubigné para governanta dos filhos legitimados do Rei Sol.
“A desgraça progressiva de
Madame de Montespan, comprometida no caso dos venenos, nas missas negras, na
magia barata, fez com que Françoise d’Aubigné se tornasse sua grande rival”.
E Françoise, née d’Aubigné,
acabou casando com Luís Dieudonné.
Foi numa cerimonia privada, à
noite, celebrada por François de Harlay de Champvallon, Arcebispo de Paris, na
presença do Père La Chaise, confessor do Rei, do Marquês de Montchevreuil, de Claude,
Conde de Forbin-Gardanne (Chevalier de Forbin), e Alexandre Bontemp, valet do
Rei.
Nenhuma documentação oficial
do casamento existe, mas que ela ocorreu, no entanto, é aceito pelos
historiadores e biógrafos. A data é incerta pode ser na noite de 9 para 10 de
outubro de 1683 ou qualquer noite de janeiro 1684.
Pelo sim, ou pelo não, se
conta que essa união morganática durou de 9 de outubro de 1683 até 1 de
setembro de 1715, portanto 31 anos, 10 meses e 24 dias, tempo esse usado por Françoise
d’Aubigné para aumentar sua influência sobre Luís, Le Grand, daquele que afirmava
“o Estado sou Eu”, de ‘le Roi Soleil”, do Vigário de Cristo na Terra, após a
Sagração com os Santos Óleos, da divindade visível pela Doutrina do Direito
Divino dos Reis.
Sua influência sobre Luís XIV
era tanta que ela « criou » uma nova Era de rigor e devoção católico-romana, a
ponto de la Princesse Élisabeth-Charlotte, Madame e Duquesa de Orleans, por seu
casamento com Felipe, Monsieur le frère unique du Roi, lamentou o espírito de
fanatismo que tinha se abatido sobre todos os frequentadores da Corte no Palácio
de Versalhes, e de que nada mais era divertido durante " o reinado de
Madame de Maintenon ".
Luís XIV em trajo
de Coroação.
Como ela tinha grande poder
sobre o Rei Sol, um sol já no poente, sua participação foi decisiva, tanto na
revogação do Edito de Nantes, quanto na publicação do Edito de Fontainebleau.
E em sendo assim, culpada pelo
massacre de seus ex- irmãos, huguenotes ou protestantes, nas História de França
e, porque, não dizer, na da Humanidade.
Pelo Édito de Nantes, assinado
na cidade de Nantes a 13 de abril de 1598, por Henrique IV, Rei de França e de Navarra,
“ era concedido aos huguenotes a garantia de tolerância religiosa após 36 anos
de perseguição e massacres por todo o país, com destaque para o Massacre da
noite de São Bartolomeu de 1572”.
Pelo Édito de Fontainebleau,
assinado no Château de Fontainebleau, em 23 de outubro de 1685, Luís XIV revogou
o Édito de Nantes, “e 87 anos depois, a intolerância religiosa estaria de volta
a Bela França e domínios”.
A bem da verdade, o Papa
Inocêncio XI e a Cúria Romana foram contra o Edito, mas Luís ignorou o apelo
papal, pois sua esposa morganática queria, porque queria, esse decreto real
nefasto, para o seu reino.
“Os huguenotes voltaram a ser
perseguidos, e com isso a maioria fugiu para o estrangeiro, causando grandes problemas
econômicos ao país, problemas esses que só vieram a ser resolvidos na época do Segundo
Império Napoleônico, no governo de Napoleão III, de 2 de dezembro de 1852 até 4
de setembro 1870, com o começo da forte industrialização na França”. "
Françoise d'Aubigné,
intitulada Marquesa de Maintenon, conhecida como Madame de Maintenon, esposa
morganático de Luís XIV, Rei da França e Navarra, por 31 anos, 10 meses e 24
dias, morreu no15 de abril de 1719, na Maison Royale de Saint-Louis, em Saint-Cyr,
amada por pouquíssimos e odiadas por muitos e muitos.
A História da Humanidade é prova
disso.
A vida de Françoise é a prova
viva daquele celebre ditado:
O pior feitor é aquele
que já foi escravo.
Cenas Brasileiras
Por Debret
Quem se beneficiou dessa
emigração dos huguenotes e seus capitais, sua força de trabalho, sua dedicação
a Sã Doutrina, foram os Países Baixos, a Holanda, e por via de consequência o
capitalista Estados Unidos da América do Norte.
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