sexta-feira, 28 de novembro de 2014

21 - CONVERSA- Silvestre e a Doação de Constantino.

Doação de Constantino. 
Gravura de Tommaso Di Lorenzo,
 a partir de obra de Filippo Prosperi.

Silvestre I e a Doação de Constantino.

Silvestre I sucedeu a Milcíades que faleceu em 10 de janeiro de 314.

Inovando os de Roma consagraram a Silvestre seu novo bispo de Roma em 31 de janeiro de 314, ou seja, 21 dias depois da morte do bispo anterior – Milcíades.

Havia sempre entre um bispado e outro  um tempo de vacância – sede vacante - na escolha de um novo bispo para Roma.

Silvestre I ocupou o cargo durante (21) vinte e um anos, ou seja, de 31 de janeiro de 314 até  31 de dezembro de 335 d. C..

É considerado (33) o trigésimo terceiro Papa da Igreja Católica Apostólica Romana.

E seu nome foi envolvido num dos maiores golpes político/econômico de todos os tempos, a chamada “Doação de Constantino”.

Apesar disto ele é reverenciado como um santo pela Igreja Católica e as Igrejas Ortodoxas.

Sabemos, pelas meditações anteriores, que Constantino, o Grande, geria de facto as atividades da Igreja Cristã Imperial  e que, portanto, a Silvestre só cabia obedecer. 

Explico:

Silvestre I foi uma espécie de Rainha da Inglaterra em nossos dias.

Era facto notório que Constantino tinha “aparelhado” o Estado Romano com os cristãos, pois conhecia as qualidades dos membros da sua Igreja e Silvestre I  não se sentia constrangido, pois essa sua aceitação do poder imperial tinha como consequência o aumento do poder do bispo de Roma.

Nessa altura o Silvestre o bispo de Roma não era denominado “papa”, sendo que existe uma controvérsia sobre qual foi o bispo que o usou primeiro

“O termo "papa" provém do Latim "papa", do Grego πάππας, pappas uma palavra carinhosa para pai, mas existem diversas interpretações sobre o significado e a aplicação do título, dentre elas que seria um acrônimo em latim, onde cada letra corresponderia a uma palavra: Petri Apostoli Potestantem Accipiens - "o que recebe o poder do apóstolo Pedro" ou ainda Petrus Apostolus Princeps Apostolorum - "Pedro Apóstolo, Príncipe dos Apóstolos", também foi proposta como origem a união das primeiras sílabas das palavras latinas Pater ("Pai") e Pastor ("Pastor).

“O título de papa não é exclusivo da Igreja de Roma, uma vez que era anteriormente usado pelos principais patriarcas , até cair em desuso, preservando-o pelo patriarca do Ocidente (bispo de Roma), na Igreja Copta, na Igreja Ortodoxa de Alexandria, e o uso reverencial na Igreja Ortodoxa Russa, pois  partir do século 11 no Ocidente, é usado exclusivamente para se referir ao bispo de Roma”.

“ Há controvérsias sobre quem foi o primeiro bispo de Roma, isso como veneração afetuosa a usá-lo, fala-se de Marcelino (r. 296–304), Dâmaso (r. 366–384), Sirício (r. 384–399), porém não se diz que Silvestre I o usou”.

“Somente no século XI o Papa Gregório VII, nascido Hildebrando e o 157º papa da Igreja de Roma,  ‘ decretou  que o título de papa deve ser limitado apenas aos sucessores de Pedro os bispos de Roma’.”

Lembremos que Constantino, o Grande, se autoproclamou “bispos dos bispos”.

Chamo atenção que “pontifex maximus- : lit. "máximo/supremo construtor de pontes" e, por isso,  na Roma Antiga, designava o sacerdote supremo do colégio dos sacerdotes, a mais alta dignidade na religião romana que “criava” um diálogo com os deuses.

Ora, Constantino, que dava um no prego e outro na ferradura,  não desagradava os patrícios nem a plebe do império , por isso  “cultuava” a velha religião  reteve o título de pontifex maximus – foi como tal que ele delimitou a Nova Roma, a cidade de Constantinopla.   

Todavia, foi como “bispo dos bispos” que Constantino, o Grande, fez sua intervenção para conciliar as controvérsias que abalavam a Igreja Cristã Imperial, as discussões teológicas, que prejudicavam a unidade, portanto, sua própria força política, seu Poder.

E Silvestre I sorria...

 Constantino e não Silvestre convocou o Concilio de Arles (antiga Arelate), ao sul da Gália romana, hoje França, que condenou em definitivo o Donatismo Herético e declarou os donatistas além de Heréticos inimigos de Roma, inimigos do imperador.

E Silvestre sorria.

Constantino sobre a Roma pagã constrói a Roma Cristã.

Constantino doou a “Domus Faustae" ou "Casa de Fausta”, ou seja, o Domínio de Latrão, sede do Concilio de Bispos em outubro 313 d. C., que se tornou a residência do bispo de Roma e local onde exercia seus afazeres – um escritório administrativo da Igreja em Roma.

A Basílica e o Batistério foram construídos e ela se tornou a principal Igreja de Roma e dos católicos romanos, a mãe de todas as Igrejas.

E Silvestre sorria.

Incentivou as construções:

1-       Da Basílica de São Pedro, na colina do Vaticano, acima de um templo pré-existente dedicado a Apolo, hoje a Cidade Estado do Vaticano;

2-      Da Basílica de Sessorium (Basílica da Santa Cruz de Jerusalém), a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, na Via Ostiense;

3-      Da Basílica de Santi Silvestro e Martino ai Monti , também conhecido como San Martino ai Monti;

4-       Do cemitério de sepulturas dos mártires, especialmente o da Via Salaria, perto das Catacumbas de Priscila;

5-      Muitas outras igrejas e lugares dedicados a Fé cristã.

 

O nome de Silvestre está ligado a fundação da Escola Romana de Canto, schola cantorum ("scuola di cantori") em 334 d. C., para preparar jovens para acompanhar as liturgias e os sacerdotes da Igreja Católica.

E Silvestre sorria.

“Na Igreja de Alexandria estava às voltas com a pregação de Ário ou Arius (n. 256 - f. 336) o que concebeu a doutrina cristã do Arianismo. Presbítero cristão de Alexandria pelo que também é conhecido por Arius de Alexandria. Ele espalhou que Jesus havia sido “adotado” pelo Criador, Deus Pai, portanto ‘Que o Filho era uma criação do Pai, que assim sendo, houve um tempo em que o Filho (ainda) não existia’, isso era uma nova Doutrina da Trindade, pois negava a essência divina de Jesus”.

 Alexandre de Alexandria, patriarca de Alexandria, era ferrenho opositor do Arianismo, como estava em uma posição dificílima devido ao sucesso de Ario até entre os bispos, pediu ajuda a Silvestre, mas quem se manifestou foi Constantino que enviou o bispo Hósio de Córdoba para resolver a questão.

Hósio de Córdoba não conseguiu resolver uma questão tão difícil como esta do Arianismo e ‘Apelou para Cesar’, ou seja, apelou para Constantino augustus  imperator, césar , filius augustorum, pio , félix, pontifex maximus, invictus, pater patriae , triunfator, etc. e tal.

Constantino convocou todos os bispos da Igreja para uma reunião na Cidade de Niceia da Bitínia ,atual İznik, Turquia, em 20 de maio de 325 d.C..

 Há controvérsias sobre o número de bispos presente, os mais otimistas afirmam que foram 318, o mais pessimista 250, mas o que sabemos é que a assembleia foi solenemente aberta pelo imperador Constantino.

Silvestre I não compareceu ao Concílio e mandou os presbíteros Vito e Vicente como seus representantes – certamente esses homens eram conhecidos e da confiança de Constantino, pois não?

Homessa, a presença de Silvestre I era totalmente dispensável, pois não?

Sob a presidência de Hósio de Córdoba foi confirmada a condenação do Arianismo.

Foi formulado o “Credo de Nicéia”.

E pelo sim ou pelo não, este é considerado “Primeiro Concílio de Niceia”.

Contudo as coisas não se resolveram a contento e Constantino convocou um novo Concílio, agora na Cidade de Tiro, no Líbano, em 335 d. C.

Silvestre I, velho e cansado, tentou influir neste Concílio de Tiro, mais foi em vão, ninguém lhe deu, pois ninguém lhe dava, ouvidos e acabou falecendo em 31 de dezembro de 335 d. C., após 21 anos de seu Pontificado, sendo sepultado nas Catacumbas de Priscilla.

Em 2 de junho 761 d. C., o Papa Paulo I mandou transladar seus restos mortais para o Oratório da Igreja di San Silvestro in Capite, e depois em 17 de julho para o interior desta mesma Igreja, onde foi descoberto durante a restauração que foi feita em 1596.

O Grande Golpe da Igreja de Roma, a Malfadada :  A Doação de Constantino.

Esse documento foi à base da maior tentativa de “trambique” que a Igreja de Roma tentou dar na Cristandade, na Europa, no Mundo, vamos resumidamente a ela:

É um decreto imperial apócrifo – falso- atribuído a Constantino, onde constava que ele doou à cidade de Roma, as províncias da Itália e a Europa, considerada o resto do Império Romano do Ocidente, a Silvestre I, criando assim o chamado “Patrimônio de São Pedro” .

Além do que afirmava que o bispo de Roma tinha direito de “de governar a cidade de Roma e seus arredores, da mesma forma que um monarca temporal ou secular, além de detentor dos direitos de interferir nos assuntos políticos da Itália, da Europa, considerada o resto do Império Romano do Ocidente, bem como numa sucessão de territórios adicionais formando, assim, uma autoridade religiosa dotada de poderes governamentais universais”.

“Foi em 1440 que o humanista italiano Lorenzo Valla demonstrou que a "doação" era uma farsa, já que a análise linguística de expressões idiomáticas e palavras de texto incorporados que não existiam no latim dos anos finais do Império Romano.”

“Mesmo o texto mostrou a palavra " feudo "era um conceito desconhecido na Europa no início do século IV, portanto a "doação" é forçosamente de anos mais tarde”.

 “Alguns anos antes o humanista e Cardeal Nicolau de Cusa, ou Nicola Cusano,  também argumentou que o documento era uma falsificação - "fortes dúvidas e perplexidades" sobre a veracidade dos documentos apresentados pela Igreja de Roma".

”Johann Joseph Ignaz von Döllinger ( Bamberg , 28 de fevereiro de 1799 - Mônaco, Alemanha , 14 de janeiro de 1890 ) padre , teólogo e historiador alemão, um dos os principais oponentes da proclamação do dogma da infalibilidade papal, afirma que “ a Doação de Constantino foi redigida na Chancelaria Papal entre 752 e 777 em Roma.

Esse senhor tem muita credibilidade já que foi ferrenho opositor ao absurdo dogma da infalibilidade papal, que “ afirma que o papa não pode estar errado quando fala ex cathedra , isto é, como médico ou pastor universal da Igreja ( episcopus servus servorum Dei ), consequentemente o dogma só é válido quando ele exerce o ministério petrino, proclamando um novo dogma ou definição de uma doutrina definitivamente como revelada” , uma grande bobagem. 

“Ao ser analisada pelo teólogo Inglês Reginald Pecocke, esse reafirmou após uma análise idiomática que a "doação" era uma fraude, já que era impossível que tal documento fosse escrito no ano de 300 d.C. ou EC.”

“Oficialmente, o Papado nunca declarou a falsidade da "doação", mas gradualmente deixou de ser invocada como fundamento jurídico para a existência do Estados Pontifícios, inclusive, não foi sequer mencionado no Bula Inter Caetera, de 1493, quando o Papado dividiu o Novo Mundo entre Espanha e Portugal”.

“A "Doação de Constantino” é um texto escrito por volta do ano 750 d. C. ou EC, quando o papa Estêvão II estava negociando o reconhecimento de Pepino, o Breve, como Rei dos Francos, pois esse havia deposto a Dinastia Merovíngia, e recebendo em troca domínios na Itália para assim formar o Patrimônio de São Pedro, os Estados Papais”.

Conclusão:

O que quero com essa meditação é provar duas coisas:

1-    Que Constantino não havia realmente se convertido quando começou a usar os cristãos, já que  que só recebeu o batismo no final de sua vida, poucas horas antes da sua morte,  através de Eusébio, arcebispo de Constantinopla ( 339-341) em sua Villa em Nicomedia, Bitínia,  aliás onde o imperador morreu no dia  22 de maio de 337;

2-    Que a Igreja Católica Apostólica Romana é o Grande Mau do Mundo. 

Eu creio que não preciso dizer mais nada sobre a Igreja Católica, a Malfadada. 





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