Onction de David par Samuel,
fresque sur bois,
Synagogue de Doura Europos,
siècle II
Unção dos Reis bíblicos e a
sacralização da pessoa do Monarca.
Nenhum povo foi mais
ingrato a Deus do que os israelitas nos tempos bíblico.
Choraram até de saudades
das cebolas do Egito. (Números 11: 5 “Lembramo-nos dos peixes que, no Egito,
comíamos de graça; dos pepinos, dos melões, dos alhos silvestres, das cebolas e
dos alhos”.)
Enquanto Moises estava no
alto do Monte Sinai falando com o Senhor para Dele receber as Tabuas da Lei,
“povo de Israel então forçou a Arão a fundir um ídolo- um Bezerro de Ouro- para que eles adorassem e assim fossem
reconduzidos ao Egito “, conhecido em hebraico como Khet ha'Egel (חטא העגל) e é descrito na Bíblia, no livro de Shemot.
Na Bíblia crista em Êxodo,
capitulo 32, versículos de 1 a 8:
Mas, vendo o povo que
Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão e lhe disse: Levanta-te,
faze-nos deuses que vão adiante de nós; pois, quanto a este Moisés, o homem que
nos tirou do Egito, não sabemos o que lhe terá sucedido.
Disse-lhes Arão: Tirai as
argolas de ouro das orelhas de vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas e
trazei-mas.
Então, todo o povo tirou
das orelhas as argolas e as trouxe a Arão.
Este, recebendo-as das suas
mãos, trabalhou o ouro com buril e fez dele um bezerro fundido. Então,
disseram: São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do
Egito.
Arão, vendo isso, edificou
um altar diante dele e, apregoando, disse: Amanhã, será festa ao SENHOR.
No dia seguinte,
madrugaram, e ofereceram holocaustos, e trouxeram ofertas pacíficas; e o povo
assentou-se para comer e beber e levantou-se para divertir-se.
Então, disse o SENHOR a
Moisés: Vai, desce; porque o teu povo, que fizeste sair do Egito, se corrompeu
e depressa se desviou do caminho que lhe havia eu ordenado; fez para si um
bezerro fundido, e o adorou, e lhe sacrificou, e diz: São estes, ó Israel, os
teus deuses, que te tiraram da terra do Egito.
Fim da passagem bíblica.
“Durante os 300 anos que se seguiram, os israelitas
não tiveram nenhum chefe único reconhecido por todas as tribos. Cada tribo
vivia sob um chefe particular e governava-se segundo os costumes do regime
patriarcal”.
O Profeta Samuel ficou velho e passou o cargo
de Líder do povo para seus filhos, que não honraram a divina incumbência, e o
povo então pediu um Rei.
I Samuel, capitulo 8, versículos de 4 a 9:
Então, os anciãos todos de
Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e lhe disseram: Vê, já estás
velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora,
um rei sobre nós, para que nos governe, como o têm todas as nações.
Porém esta palavra não
agradou a Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos governe. Então,
Samuel orou ao SENHOR.
Disse o SENHOR a Samuel:
Atende à voz do povo em tudo quanto te diz, pois não te rejeitou a ti, mas a
mim, para eu não reinar sobre ele.
Segundo todas as obras que
fez desde o dia em que o tirei do Egito até hoje, pois a mim me deixou, e a
outros deuses serviu, assim também o faz a ti.
Agora, pois, atende à sua
voz, porém adverte-o solenemente e explica-lhe qual será o direito do rei que
houver de reinar sobre ele.
Ao meu ver o Senhor não
gostou nada do pedido, mas é Deus magnânimo e assim atendeu ao pedido de seu
povo escolhido.
I Samuel, capitulo 9,
versículos 1, 2, 15,16, 17:
Havia um homem de Benjamim,
cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de Becorate, filho de
Afias, benjamita, homem de bens.
Tinha ele um filho cujo
nome era Saul, moço e tão belo, que entre os filhos de Israel não havia outro
mais belo do que ele; desde os ombros para cima, sobressaía a todo o povo.
Ora, o SENHOR, um dia antes
de Saul chegar, o revelara a Samuel, dizendo:
Amanhã a estas horas, te
enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu
povo de Israel, e ele livrará o meu povo das mãos dos filisteus; porque atentei
para o meu povo, pois o seu clamor chegou a mim.
Quando Samuel viu a Saul, o
SENHOR lhe disse: Eis o homem de quem eu já te falara. Este dominará sobre o
meu povo.
I Samuel, capitulo 10, versículos
1, 24,25:
Tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou
sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Não te ungiu, porventura, o SENHOR por
príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel? (O homem ungido era Saul, o Rei
Saul, membro da tribo de Benjamim)
Então, disse Samuel a todo
o povo: Vedes a quem o SENHOR escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum
semelhante a ele. Então, todo o povo rompeu em gritos, exclamando: Viva o rei!
Declarou Samuel ao povo o
direito do reino, escreveu-o num livro e o pôs perante o SENHOR. Então,
despediu Samuel todo o povo, cada um para sua casa.
Mais, o Rei Saul fez o que
é mau perante os Olhos do Senhor.
E Samuel ungiu a Davi,
filho de Jesse, o belemita (nascido em Belém)
1 Samuel, capitulo 16,
versículos 1, 3,11, 12 e 13:
Disse o SENHOR a Samuel:
Até quando terás pena de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre
Israel? Enche um chifre de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita;
porque, dentre os seus filhos, me provi de um rei.
Convidarás Jessé para o
sacrifício; eu te mostrarei o que hás de fazer, e ungir-me-ás a quem eu te
designar.
Perguntou Samuel a Jessé:
Acabaram-se os teus filhos? Ele respondeu: Ainda falta o mais moço, que está
apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda chamá-lo, pois não
nos assentaremos à mesa sem que ele venha.
Então, mandou chamá-lo e
fê-lo entrar. Era ele ruivo, de belos olhos e boa aparência. Disse o SENHOR:
Levanta-te e unge-o, pois este é ele.
Tomou Samuel o chifre do
azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito
do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá.
O que tem de comum nessas
Unções?
Foi derramado azeite na
cabeça dos dois Reis escolhidos por Deus nosso Senhor.
Desde a Coroação dos Reis
Visigodos de Toulouse, os Reis cristãos foram ungidos com azeite, também,
chamados de Óleos Santos.
Querendo uns, ou não
querendo outros, foi vital para a Civilização Judaico-Cristã a conversão dos
Reis dos Francos, daí a grande relevância que tem o Batismo de Clovis, o unificador
da Gália incluindo partes do oeste da Alemanha, e porquê?
Porque as Tribos Bárbaras,
bem como a civilização romana imperial, eram politeístas, tinha vários deuses.
A mitologia nórdica ou
mitologia germânica é tão rica quanto a mitologia greco-romana.
Deuses como Wōdanaz,
também, conhecido como Odin, deus poderoso portador da vitória, sábio e poético,
mágico e curador, que foi por Tácito reconhecido como Mercúrio em seu trabalho
intitulado “Germania”, como Týr, deus maneta associado com a lei e heroica
glória, que foi por Tácito reconhecido como Marte em seu trabalho intitulado
“Germania”, como Thor e seu martelo Mjölnir, deus da força, do trovão, da
tempestade, de proteção para os homens, que foi por Tácito reconhecido com
Júpiter, dos romanos, e Hercules dos gregos em seu trabalho intitulado
“Germania”, as deusas femininas como Nerthus ou Hertha, “a mãe terra,
representando a fertilidade da terra cultivada, que passeava em um carro que
era puxado por duas vacas”, aquém apresentavam sacrifícios “oferecidos em um
lago, o que foi interpretado como a ilha dinamarquesa de Funen”, conforme
escreve Tácito em seu trabalho intitulado “Germania”, como Frijjō ou Frigg,
mulher de Odin/ Wōdanaz, deusa do amor, da sabedoria, mãe de Thor e de Balder
ou Baldur, o belo deus da luz e da pureza, que levava a justiça, a paz e a boa
vontade aos lugares que visitava, que despertou a ira de Loki, deus da mentira,
da trapaça ligado à magia e pode assumir a forma que quiser, a ponto de tanta
inveja mata-lo, enfim eram cultuados, pois Saga, através de seus contos,
lembrava sempre os feitos gloriosos dos habitantes da “cidade de Asgard”, os
Ases, portanto nada mais natural do que se considerar os líderes das Tribos
como descendentes diretos dessas divindades e esse era o grande empecilho para
a Evangelização dos antigos povos que habitavam a velha Europa, nome derivado
da deusa grego-fenícia raptada por Zeus, filha de Agenor, Rei de Tiro e Sidon,
e de Teléfassa, a egípcia filha do deus Nilo.
Assim, Agenor, Rei de Tiro
e Sidon, desesperado virou o mundo em busca de sua filha passando “por muitos
lugares, lugares que agora são conhecidos como França, Alemanha, Itália… e como
as pessoas que habitavam esses sítios na antiguidade escutavam em toda a parte
o nome de Europa, decidiram chamar assim à terra que hoje em dia é o continente
de Europa”.
Ora, Chlodovechus ou Clovis
I, Rei dos Francos salianos de Tournai, da Dinastia Merovíngia, era considerado
herdeiro das divindades e portanto venerado. Sua autoridade residia exatamente
nessa condição como poderia então abrir mão dela, assim sem mais aquela, em
prol do jacente cristianismo europeu?
“Quebrando tais vínculos
“sagrados”, não deveria o monarca temer uma diminuição de sua autoridade?”
Clovis I, um hábil
político, não temeu.
Além do que contava ele com
a lealdade dos ‘antrustions’, uma tropa armada que lhe ajudou a conquistar os
domínios recebendo grandes vantagens a época.
Os ‘antrustions’ compunham
uma guarda de corpo cujos membros faziam juramento de fidelidade absoluta,
geral, irrestrita, com suas mãos dentro das mãos do Soberano, denominado de trustis
e Fidelitas, que com o tempo foi perdendo sua força militar e política.
Ora, se o Soberano havia
decidido se converter ao cristianismo nada mais natural que eles, dentro do
escopo de fidelidade, também, se convertessem.
O que aconteceu em 24 de
dezembro 496 quando São Remy, Bispo de Reims e apóstolo da Francos, batizou não
só a Chlodovechus ou Clovis I, como, também, a todos os seus guerreiros ‘antrustions’
e outros membros menos votados da Corte Rei dos Francos, que segundo São Gregório, Bispo de Tours, foram 3.000 francos
Foi um sucesso cristão
sobre os deuses da mitologia nórdica, das divindades dos francos, das
divindades germânicos, e com isso podemos considerar que esse Fato Histórico
foi vital para a Civilização Judaico-Cristã.
O Batismo de Chlodovechus
ou Clovis I tinha que estar envolta em uma grande mística e assim aconteceu,
vamos aos fatos segundo São Gregório,
Bispo de Tours:
“Chegando ao limiar do
batistério, onde os bispos reunidos para a circunstância tinham se postado para
se juntar ao cortejo, foi o rei que, tomando por primeiro a palavra, pediu a
São Remy que lhe conferisse o batismo. Respondeu-lhe o prelado:
“"Incline a cabeça,
sicambro* orgulhoso; adore Aquele que você queimou, e queime o que você
adorou." [sicambro,*referência a um povo antiguíssimo da Gália]”.
“Em seguida, tendo entrado na piscina
batismal, recebeu a tripla imersão sacramental em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo”.
“Ao sair do batistério,
administrou-se lhe ainda o sacramento da confirmação, segundo o uso vigente nos
batismos de adultos”.
“Aos personagens
principescos aplicou-se o mesmo procedimento”
“Após essa cerimônia,
dar-se-ia a sagração do Rei”.
“Nessa ocasião, teve lugar
um prodígio: surgiu uma pomba trazendo no bico uma ampulla (pequena garrafa,
frasco, ampola) com óleo, com o qual Clóvis foi sagrado”.
“Hincmar, Arcebispo de
Reims, anos depois, já na época de Luís, o Pio, filho de Carlos Magno, escreveu
que uma pomba angelical, havia trazido a ampulla com óleo santo em seu bico e entregue
a São Remy para ungir a testa de Clovis no seu batismo e assim todos ficassem
sabendo da Vontade de Deus em relação ao escolhido, que como Ungido, assim como
foram os Reis do Israel Bíblico, era o instrumento do Divino Criador, um ser
sagrado, que deveria ser honrado, respeitado e venerado como tal”.
“Hincmar ao escrever sobre
o Batismo de Clovis afirmou que ele foi “ungido com a Crisma (óleo de oliveira)
que recebeu do céu, que ainda temos”.
Descreve a cerimonia do
Batismo em massa afirmando que “ocorreu fora da igreja por causa da multidão de
pessoas, que não poderia entrar para receber o Crisma” (leia-se o óleo que é o
elemento básico da crisma).
Não havia Crisma para tal
multidão.
Que para resolver a
situação que “São Remy olhando para cima e mãos no ar, começou a orar em silêncio,
e eis uma pomba, mais branca do que a neve, trouxe em seu bico uma pequena ampulla
cheia de crisma. Todos os presentes foram tomados por uma doçura indizível, e o
santo pegou a pequena ampulla do bico da pomba que imediatamente desapareceu a
vista de todos”.
O conteúdo da Santa Ampola
(Sainte Ampoule) era o elemento fundamental da Sagração dos Reis de França
desde
Luís, o Pio ou Piedoso, que
foi ungido Rei em 5 de outubro de 816, pelo Papa Estêvão IV, juntamente com sua
esposa Ermengarda de Hesbaye, na Catedral Notre-Dame
de Reims, até Luís XVI, em 11 de junho de 1775.
Três Reis não foram
coroados em Reims: Luís VI (soberano de 29 de julho de 1108 a 1 de agosto de
1137) na Catedral de Orleans, Henrique IV em 27 de fevereiro de 1594 na
Catedral de Chartres e Louis XVIII que nunca foi ungido e sim aceito após jurar
Constituição de 1814.
Carlos X foi coroado em
Reims em 29 de maio de 1825, mas não com o conteúdo místico usado em seu irmão
Luís XVI, pois a “Santa Ampola (Sainte Ampoule) foi quebrada em 8 de outubro de
1793 por Philippe Rühl, alemão, deputado para Bas-Rhin, Alsácia, a Convenção
Nacional, dentro dos Movimentos da Revolução Francesa de 1789, gesto
classificado como “zelo revolucionário”.
Rühl se suicidou.
“Gregory Tours não falar deste milagre, no
entanto, pertencia à tradição oral da Igreja de Reims” e até os nossos dias o
assunto é objeto de estudos”.
A Coroação dos Reis ou
Rainhas da Inglaterra, também, tem seu lado místico, para lembrar a Unção dos
Reis Bíblicos, através de Óleo Santo, ou Crisma, ou Óleo de Oliveira,
depositado em uma “santa ampola” que foi usada pela primeira vez
na coroação de Henrique IV, em 13 de outubro de 1399, e que segundo a lenda foi
doada por Maria, a Mãe do Senhor, São Thomas Becket (Saint Thomas of
Canterbury).
Junto com a ampola há uma
colher que serve de instrumento de distribuição do óleo de oliveira pela pessoa
do soberano.
Enfim, as monarquias de
todos os tempos precisam de Deus, de uma manifestação da Divindade, para
sacralizar a pessoa do Monarcas, do Soberano, sem o qual elas não sobrevivem.
Sagração de São Luís, Rei
de França
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