Em defesa de Louise Elisabeth d'Orleans,
Sa Majesté la Reine douairière d'Espagne.
Mademoiselle de Montpensier,
Não há ser humano que ao obrar não solte alguns flatos.
Luis XIV, rei de França e de Navarra, era um camarada que tinha grande
ventosidade, muitos gazes acumulados, por causa da prisão de ventre crônica,
motivada pelos excessos cometidos na mesa, com as comidas muito condimentadas.
Luís Dieudonné, a França personificada em toda sua Grandeza, la Grandeur
de la France, morreu sofrendo terrivelmente dos intestinos, de constipação -
associada com a síndrome do intestino irritável, de fezes duras, por causa do excesso de purga
sua flora intestinal foi destruída, o que levou a ter cólon irritado e
hemorroidas, que segundo consta saiam muito do ânus e sangravam muito.
O problema com as hemorroidas era tão grave que Luis fez cirurgia para
dar um jeito nelas, uma intervenção cirúrgica naquela época deveria ser
terrível.
Isso sem falar de uma fistula, que, também, foi operada.
Lembrando que “ A obstrução de uma glândula próxima do canal anal, cujo
líquido fica acumulado, provocando a infecção e a formação do ducto. Certos
transtornos intestinais ou anorretais, como a constipação, a diarreia crônica,
a colite ulcerosa e a doença de Crohn”, e Luis vivia constipado , além é claro
de nunca lavar com agua e sabão essa região tão sensível.
Isso posto, vamos a um fato relevante:
Luís Dieudonné era submetido diariamente as purgas que eram aplicadas diante
dos cortesãos presentes no Quarto do Rei, que levava lá, no dito cujo, o
cristal sem a menor cerimônia diante de todos.
Essa cena cerimonial era assistida habitualmente por 20 a 100 homens, os
mais importantes do Reino ou convidados especiais do soberano.
As mulheres não eram convidadas para assisti-la.
O rei poderoso de França se sentava em uma chaise percée, uma
retrete, uma privada portátil, uma cadeira com assento furado e com um pinico
por baixo, e obrava sem a menor cerimônia , além é claro de soltar seus puns.
Claro que nessa hora flatos, que deveriam ser como “cordões cheirosos” ,
eram expelidos por « sa majesté très
chrétienne ».
Depois que o Rei de França e de Navarra, um homem poderoso e que exigia
respeito de toda a Europa, acabava de
fazer suas necessidades, certamente com grande sofrimento devido o quadro
acima, um pajem o limpava com paninhos apropriados, na frente da Corte.
Se o soberano de França podia soltar flatos, dar peidinhos a vontade, a
sua família, os seus cortesãos, também, podiam, afinal a vida da Corte era
regida pelos atos de Luís Dieudonné, o Rei Sol, e ninguém mais.
Bem, Luis era l'homme des femmes, sexualmente muito ativo, como
sabemos teve várias amantes, mas com a marquesa de Montespan teve uma menina
que foi legitimada chamada Françoise Marie de Bourbon, Légitimée de France, neta
de França por casamento, e conhecida como a segunda « Mademoiselle de Blois ».
« Mademoiselle de Blois » casou com Philippe, então duque de Chartres ,
com a morte do pai foi duque d'Orleans e futuro Regente de França.
Filho de Philippe de France, Monsieur le frère unique du Roi, e
de sua segunda esposa a princesa Isabel Carlota, duquesa de Orleans, nascida
Elisabeth Charlotte, prinzessin von
der Pfalz, no Castelo de Heidelberg, Heidelberg, Palatinado Eleitoral, Sacro
Império Romano-Germânico, em 27 de maio de 1652 e aos 70 anos no Château de
Saint-Cloud, Île-de-France, em 8 de dezembro de 1722, também conhecida como
Liselotte von der Pfalz, membro da Casa de Wittelsbach ( três de seus membros
eleitos imperadores e reis do Sacro Império Romano-Germânico), Fille de France
por casamento , duquesa d’Orleans, conhecida como Madame, e a Palatina, que
tinha uma língua mais afiada do que facão de açougueiro.
Portanto, Philippe d'Orleans e futuro Regente de França, era sobrinho e
genro de Luis XIV.
A Legitimada, agora Alteza Real por casamento, não tinha papas na língua
e “ falando do marido, disse cinicamente: "Não me importa se ele me ama,
desde que se case comigo!"
Philippe d'Orleans logo apelidou
sua esposa de "Madame Lúcifer" e era assim que ela passou a ser
conhecida na corte de Versalhes.
Segundo Madame a Palatina seu
filho era um homem sexualmente muito ativo, e que não perdia tempo com
preliminares, conquistava e ia para os finalmente rapidinho e em qualquer
lugar, portanto aos olhos da Princesa Charlotte-Elisabeth seu filho era um
garanhão, mas aos meus era um grande de um devasso.
“Madame Lucífer” ao contrário era “uma mulher orgulhosa, triste,
preguiçosa, que passou sua vida estendida em seu sofá, rodeado por suas damas,
muitas delas amantes em potencial de seu marido”, mas como era esperta como o Capeta
as tratava como os agiotas tratam seu rico dinheiro.
Ela não ligava a mínima que o duque seu marido, aliais marido a contragosto
tanto dela como ele era nora a contragosto da princesa Palatina, tivesse amantes,
pois para ela o importante era estar casada e bem-casada, afinal era uma das
legitimadas que recebeu ao casar o cobiçado
Sua Alteza Real , o tratamento usado
antes dos títulos nobiliárquicos de alguns membros de algumas famílias reais,
que seu marido tinha direito e ela não apesar de legitimada .
Os duques d’Orleans, tiveram filhos, entre eles a menina Louise
Elisabeth d'Orleans, nascida no palácio de Versalhes no dia 11 de dezembro de
1709, titulada Mademoiselle de Montpensier, e reconhecida como princesse du
sang, afinal ela era uma Orleans de Bourbon.
Louise Elisabeth d'Orleans foi mal-educada num convento junto com sua
irmã Louise Diane d'Orleans, Mademoiselle de Chartres, que se tornou por
casamento Sua Alteza Sereníssima princesa de Conti, Madame la princesse de
Conti.
Ambas foram pobremente educadas, sem uma grande base cultural, mas
deviam ter uma certa “politesse”, afinal iam viver sob a famosa l'étiquette à
la cour de Versailles ordonnée par son grand-père Louis XIV.
Aliás, ninguém ligava para Mademoiselle de Montpensier e ela estava
destinada a fazer um casamento de conveniência com um príncipe menor, um príncipe
ítalo-germânico.
Entretanto, no jogo político europeu, seu pai, o Regente, lhe deu em
casamento ao filho de seu primo Felipe V, rei de Espanha, o primeiro da Casa de
Borbón de Espanha, o então príncipe das Asturias Don Luis.
Em Espanha foi mal-recebida pela ambiciosíssima rainha Isabel Farnésio,
como já era meio tereré, amalucada, mas acima de tudo uma criança “ela reagiu
exibindo estranho comportamento, tais como andar nua, dar grandes arrotos e
exercitar sua flatulência em público”, ou seja, peidava adoidado.
E é aqui que começa minha defesa de Louise Elisabeth d'Orleans,
Mademoiselle de Montpensier.
Louise Elisabeth quando chegou a Corte de Espanha era uma menina de 13
anos.
Correr, pular, subir em arvores, é natural em uma menina nessa idade, o
que não é natural é ser uma mini mulher, maquiada, vestida como adulto, com
postura de uma senhora de idade.
E a princesinha de França, corria, pulava, subia em árvores, para
desespero das vetustas damas españolas.
Sabemos que Luis XIV não tomava banho, que sua higiene era precária.
Na Parte do cerimonial de Corte chamado de “Le Petit Lever”, o pequeno
levantar, o Rei era lavado (são passados vários paninhos brancos pelo corpo,
principalmente nos sovacos, gotas de vinho são respingadas em seu rosto e em
suas mãos para lava-lo), era penteado, e
era feita sua barba, isso de dois em dois dias.
Banho de agua e sabão nem pensar.
Além do que Luís era super alérgico, não podia com perfumes, só o de
flor de laranjeiras, tinha dentes podres o que causava um insuportável mau
hálito, por isso foi que os lencinhos de rendas foram incluídos na indumentária
de Corte, pois o Rei- Sol os colocava na boca enquanto dialogava ou com suas
amantes, ou com alguém muito de perto.
Ora, se o avô era sujo, a mãe indolente, ela criada em um convento –
onde as freiras eram super vestidas e banho era palavra proibida- um verdadeiro
patinho feio que ninguém ligava, então como querer que essa menina de 13 anos
tivesse grandes hábitos de limpeza? Era impossível.
Louise Elisabeth compareceu perante a Corte toda suja e fedorenta, mas
será que teve alguém para impedi-la, alguém para amigavelmente faze-la ver que
a limpeza era necessária?
Creio que não, até por La Farnese, a poderosa e cruel rainha,
não gostava dela, e cortesão que é cortesão puxa o saco dos Soberanos.
Menina, ela se recusou a usar roupa de baixo, um fato estranho porque na
Corte de França a roupa interior era muito prestigiada, já que consideravam que
ela é que limpava o corpo, sendo trocada até várias vezes por dia com essa
finalidade, limpar o corpo, e Luis XIV, que suava muito, era um exemplo dessa
“higiene”, tanto que por isso era considerado ‘ limpinho’.
Quanto a ela mostrar de forma “sibilina”, como afirmam os escritores
espanhóis, as suas partes pudendas, eu creio que era coisa feita para chocar,
bem como suas andanças peladas pelos seus aposentos, também, o eram, afinal ela
era uma criança lutando contra um Corte inteira e uma poderosa rainha que não
gostavam dela.
Quanto aos flatos, ela certamente sabia que seu avô, um poderoso monarca,
os soltava na frente de toda a sua Corte, portanto ela dar uns peitinhos não
tinha nada demais.
E tome pum...
Quanto aos arrotos, quem não já viu certos meninos mal-educados que para
chamar atenção arrotam alto pra chuchu?
É feio?
É
É porco?
É
Mais, é coisa de criança e Louise Elisabeth era uma criança.
O palácio de Versalhes era um local sujo, não tinha banheiros para os
cortesãos.
Faziam suas necessidades em qualquer lugar, o que deixava um terrível
fedor.
Se o Centro da vida da França era assim, imaginem os outros palácios da nobreza???
Por isso, eu não acredito que as residências reais de Espanha eram
limpas, limpíssimas.
Falar mal de Louise Elisabeth era fácil, principalmente se ela dava
motivos infantis para isso.
Quando seu marido, o Rei Luis I, pegou varíola foi ela que cuidou dele
abnegadamente, um fato muito louvável sendo ela uma pré-adolescente, e que
prova que ela tina certo juízo, certa noção das coisas.
É bem verdade que Louise Elisabeth era meio matusquela, meio tereré, e
que certo dia tirou a roupa e com seu vestido começou a fazer a limpeza dos
moveis, vidros, cristais, do palácio, diante de cortesão abestalhados ante a
cena.
Para mim essa cena foi motivada por ela estar sofrendo de uma terrível
depressão.
Seu avô, Luis XIV, morreu muito deprimido.
Felipe V, seu sogro e tio era, também, um depressivo.
O incompetente do marido em vez de ajuda-la escreve para o pais em San
Idelfonso:
“No veo otro remedio que
encerrarla lo más pronto posible, pues su desarreglo va en aumento".
T.L.: Não vejo remédio a não ser
encarcera-la o mais rápido possível, pois suas perturbações estão aumentado”.
Com um marido desse é ou não é para ficar louca?
Mais, ele morreu em 31 de agosto de 1724, e ela ficou viúva com 15 anos.
A rainha Isabel Farnésio a queria longe de sua Corte e aceitou de bom
grado o pedido de sua mãe, a duquesa d’Orleans, para que ela fosse enviada de
volta a Paris.
E assim Louise Elisabeth d'Orleans, Mademoiselle de Montpensier, princesse
du sang, voltou para a França, para Paris, onde viveu confinada no Palacio
de Luxemburgo, com algumas excursões ao Château de Vincennes, bem longe de
Versalhes, e bem longe do primo, sexualmente muito ativo, Luis XV.
Ela tinha “ viajou discretamente e em Paris e residiu no Palácio de Luxemburgo,
que havia sido dado a sua irmã por seu pai”.
“Isabel morreu lá esquecida por todos em 16 de junho de 1742, com 32 anos, em 16 de junho de
1742. Ela foi enterrada na igreja Église Saint-Sulpice em Paris, perto do
Palácio de Luxemburgo, onde seu meio-irmão Luís Carlos era bispo ( Louis
Charles de Saint-Albin (Paris, 5 de abril de 1698 - Paris, 9 de abril de 1764),
também chamado de Abbé d'Orléans, foi bispo de Laon e arcebispo de Cambrai)”
Era tratada como Sa
Majesté la Reine douairière d'Espagne, recebendo todas as honras de sua
posição.
Apesar de que como viúva do rei da Espanha, ela receberia uma pensão
anual de 600.000 libras do estado; no entanto, a Espanha não pagou porque seu
casamento havia sido anulado.
Fim de minha defesa de Louise Elisabeth d'Orleans, uma coitada para a
qual a vida não sorriu.
Uma tristeza.
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