Monumento em memória aos heróis
do gueto de Varsóvia.
22 de julho de 1942, dia da Santa Maria
Madalena, durante o Holocausto, tem início a deportação sistemática dos judeus
do Gueto de Varsóvia.
Relato de Marcel Reich-Ranicki
A população judaica de Varsóvia foi alvo de todo tipo de
humilhações e dos maiores abusos praticadas pelo exército alemão. No capítulo
"A caça é um prazer", de sua autobiografia, Marcel Reich-Ranicki
dá-nos um relato pessoal dos acontecimentos:
"Ainda Varsóvia acabava de se render; mal tinha
chegado a Wehrmacht à cidade, logo começou o grande gáudio dos vencedores, o
prazer incomparável dos conquistadores – a caça aos judeus.
Após o rápido, grandioso triunfo, aos soldados alemães,
exuberantes e compreensivelmente desejosos de aventura, oferecia-se nas ruas de
alguns quarteirões da capital polaca uma vista surpreendente. O que ainda não
se tinha sucedido aparecia-lhes agora pela frente a cada passo: Eles viam, completamente
surpresos, inúmeros indivíduos orientais, ou de aspecto aparentemente oriental,
com longas faixas de cabelo nas têmporas, e com fartas barbas. Exóticas eram
também as suas roupas: pretas e sem ornamentos...
Os jovens soldados (alemães) viram, pois, pela primeira
vez nas suas vidas, judeus ortodoxos. Estes estranhos habitantes de Varsóvia
não lhes despertavam nenhuma simpatia, muito mais desdém e talvez repulsa. Mas
os soldados podiam agora também gozar de uma satisfação inconsciente. Pois se
em casa, em Estugarda, Schweinfurt ou Stralsund eles não conseguiam distinguir
visualmente os judeus dos alemães de “raça pura”, os “arianos”, aqui eles
podiam finalmente ver aqueles que só conheciam das caricaturas dos jornais
alemães, sobretudo o der Stürmer....
Que estes sub-humanos, que sem dúvida deixavam uma
impressão mais medrosa do que ameaçadora, pudessem portar armas, era muito
improvável. De qualquer forma isso tinha de ser controlado. Diariamente tinham
lugar controles, nunca se sabia qual o próximo quarteirão a ser revistado. As
armas, as quais os bem-dispostos soldados supostamente procuravam, não
apareciam, por muito que eles se esforçassem. Mas eles possuíam outras coisas
que os ordeiros homens alemães acolhiam de bom grado: Anéis, carteiras, dinheiro,
e por vezes um relógio de ouro.
Mas não se tratava apenas de roubar os judeus. Eles, os
inimigos do Império Alemão deveriam também ser punidos e humilhados. Não era
difícil de o conseguir. Os soldados notaram em breve que os judeus ortodoxos
achavam particularmente humilhante que lhe cortassem as barbas. Com este objetivo,
os ocupantes, desejosos de entretenimento, tinham-se munido com tesouras...
Assim era: cada alemão que vestisse um uniforme e tivesse
uma arma podia, em Varsóvia, fazer com um judeu o que quisesse. Ele podia
obrigá-lo a cantar, a dançar, ou a fazer nas calças, ou a ajoelhar-se perante
ele rogando pela sua vida. Ele podia abatê-lo repentinamente ou matá-lo de
forma mais lenta. Ele podia ordenar a uma judia que se despisse, que limpasse o
passeio com a sua roupa interior e depois que urinasse em frente de toda a
gente. Ninguém estragou o divertimento aos alemães que se entregaram a estes
passatempos, ninguém os impediu de maltratar e matar os judeus, ninguém os
chamou à responsabilidade."
Eu tenho vergonha de pertencer a Raça Humano ao ler sobre
o Shoá, o genocídio em massa de cerca de seis milhões de judeus durante a
Segunda Guerra Mundial, através de um programa sistemático de extermínio étnico
patrocinado pelo Estado nazista, liderado por Adolf Hitler e pelo Partido
Nazista.
Jorge Eduardo de Almeida Fontes Garcia
São Paulo, na rua Piauí, em 22 de julho de 2015.
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