quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Inquisição Portuguesa -1


Frade Dominicano Inquisidor  

Auto-de-Fé

Os autos-de-fé consistiam em cerimónias mais ou menos públicas onde eram lidas e executadas as sentenças do Tribunal do Santo Ofício (instituição criada pela Inquisição no século XVI). Inicialmente havia dois tipos de autos-de-fé:

1-     Os autos-de-fé que se realizavam no interior do Palácio da Inquisição ou num Convento, destinados exclusivamente aos “reconciliados” (aqueles que eram readmitidos no seio da Igreja e condenados a penas que iam desde penitências espirituais até à prisão e ao desterro;
2-     Os autos-de-fé que se realizavam na praça pública onde eram condenados não apenas os “reconciliados”, mas também os “relaxados” (aqueles que eram entregues à Justiça secular para execução da pena de morte.

Com o passar do tempo, os autos-de-fé passaram a constituir um grandioso espetáculo, realizado com grande pompa e segundo um cerimonial rigorosamente estabelecido. Assistiam a estas cerimónias não apenas as autoridades religiosas e civis (muitas vezes o próprio rei estava presente), mas toda a população da cidade que gritava em júbilo enquanto os condenados eram queimados vivos.



São Domingos de Gusmão,
Santo católico fundador da Ordem dos Pregadores, cujos membros são conhecidos como dominicanos, presidindo a um auto-de-fé (1475).
De Pedro Berruguete
Pintor espanhol cuja arte é considerada um estilo de transição entre a arte do Gótico e o Renascimento.
Visões artísticas que retratam o tema geralmente apresentam cenas de tortura e de pessoas queimando na fogueira durante os eventos/procedimentos, o que é historicamente difícil de se comprovar por documentos que façam referência a este tipo de violência da instituição que realizava e organizava a Santa Inquisição.


  
Auto-de-fé ou auto-da-fé refere-se a eventos de penitência realizados publicamente (ou em espaços reservados para isso) com humilhação de heréticos e apóstatas bem como punição aos cristãos-novos pelo não cumprimento ou vigilância da nova fé lhes outorgada, postos em prática pela Inquisição, principalmente em Portugal e Espanha.
As punições para os condenados pela Inquisição iam da obrigação de envergar um sambenito (espécie de capa ou tabardo penitencial), passando por ordens de prisão e, finalmente, em jeito de eufemismo, o condenado era relaxado à justiça secular, isto é, entregue aos carrascos da Coroa (poder secular, em oposição ao poder sagrado do clero). O estado secular procedia às execuções como punição a uma ofensa herética repetida, em consequência da condenação pelo tribunal religioso. Se os prisioneiros desta categoria continuassem a defender a heresia e repudiar a Igreja Católica, eram queimados vivos. Contudo, se mostrassem arrependimento e se decidissem reconciliar com o catolicismo, os carrascos procederiam ao "piedoso" acto de os estrangular antes de acenderem a pira de lenha.
Os autos de fé decorriam em praças públicas e outros locais muito frequentados, tendo como assistência regular representantes da autoridade eclesiástica e civil.


Inquisição Portuguesa

A Inquisição teve um pouco menos de Poder em Portugal e no vasto Império ultramarino português, do que nas Espanhas.



Isabel de Aragón
Reina consorte de Portugal
Princesa de Asturias y Gerona
Infanta de Castilla y Aragón

Os Reis Católicos não estavam satisfeitos de impor sua política pró-Inquisição nas Espanhas, tinham que impor em toda a Península Ibérica a perseguição dos hereges, dos judeus, e dos mouros, bem como o tratamento especial para os judeoconversos, para os marranos, para os B'nei anussim ( "filhos dos forçados" que designa os descendentes de judeus convertidos à força (anusim) ou Marrano é uma expressão hebraica genérica e conceito historiográfico que se refere aos judeus convertidos ao cristianismo dos reinos cristãos da Península Ibérica que "judaizavam", ou seja, que continuavam a observar clandestinamente seus antigos costumes e sua religião anterior), e isso foi feito através do contrato de casamento de sua filha mais velha,  a Infanta Dona Isabel de Aragão e Castela, com Dom Manuel I, o Venturoso, o soberano português na época do descobrimento do Brasil por Pedro Alvares Cabral, o grande Almirante do Mar Oceano.
No contrato do primeiro casamento de Dom Manuel I com de Dona Isabel de Aragão e Castela, seus pais, Fernando II de Aragão e de Isabel I de Castela, impuseram uma cláusula que “ exigia a expulsão dos hereges (mouros e judeus) do território português”.

Consequências importantes:
1-     O Rei tentou dissuadir a rainha, pois precisava dos recursos dos financistas judeus para o desenvolvimento de seu Plano Imperial de Conquistas d'Além-Mar em África, e ao longo do Mar Oceano;
2-     A nova Rainha não cedeu;
3-     Decreto de expulsão assinado por Dom Manuel em 5 de dezembro de 1496, “concedendo-lhes prazo até 31 de outubro de 1497 para que deixassem Portugal;
4-     “Aos judeus, Dom Manuel permitiu que optassem pela conversão ou desterro, esperando assim que muitos se batizassem, ainda que apenas proforma”;
5-     Muitos não acreditaram na promessa e a maioria optou por abandonar Portugal;
6-     Diante do grande êxodo, Dom Manuel mandou fechar o Porto de Lisboa para impedir a fuga;
7-     20 mil judeus ficaram concentrados no o Porto de Lisboa esperando aos navios de transportes, na sua maioria com destino aos Países Baixos, para Amsterdam;
8-     “Em abril de 1497, Dom Manuel mandou sequestrar as crianças judias menores de 14 anos, para serem criadas por famílias cristãs, o que foi feito com grande violência”;
9-     “Em outubro de 1497, os que ainda resistiram à conversão foram arrastados à pia batismal pelo povo incitado por clérigos fanáticos e com a complacência das forças da ordem”;
10- “ Foi desses batismos em massa e à força que surgiram os marranos, ou cripto-judeus, que praticavam o judaísmo em segredo embora publicamente professassem a fé católica”;
11- Os "cristãos novos" nunca foram realmente bem aceites pela população "cristã velha", que desconfiava da sinceridade da fé dos conversos.

Dona Isabel, Rainha Intransigente, morreu, em 28 de agosto de 1498, no  Palacio Arzobispal de Zaragoza, em Zaragoza, ao dar à luz o Príncipe Infante Miguel da Paz, herdeiro conjunto das coroas de Portugal, Castela (reconhecido como Príncipe das Astúrias) e Aragão (reconhecido Príncipe de Girona), e falecido precocemente em 1500, que pôs fim ao sonho da União Ibérica na sua pessoa.

  


Casamento de D. Manuel I de Portugal e Maria de Aragão


Rainha Dona Maria, Infanta de Aragão e Castela.

Dentro da política de viver bem com seu vizinho, Dom Manuel I casou com sua cunhada a Infanta Maria de Aragão e Castela em 30 de outubro de 1500.
Os novos contratos de casamento de Dom Manuel com a Infanta Maria de Aragão, também, haviam clausulas sobre os hereges, os judeus, os mouros, os judeoconversos, os marranos, os B'nei anussim, novamente impostas pelos Reis Católicos.
A nova Rainha se mostrou partidária “o projeto Imperial Manuelino para destruir as cidades sagradas islâmicas de Meca e Medina, anexar o Império Mameluco e conquistar os lugares santos do cristianismo, especialmente Jerusalém”, contudo, como sua irmã, e certamente influenciada pelos seu pais, era intransigente em relação aos Judeus.
E acontece, na minha visão, o maldito Pogrom de Lisboa.
Nesse Massacre de Lisboa de 1506 - de 19 a 21 de abril, na Semana Santa de 1506-  uma multidão ensandecida matou centenas de Judeus, ou seja, “ homens, mulheres e crianças foram torturados, massacrados e queimados em fogueiras improvisadas no Rossio, mais precisamente junto ao largo de São Domingos”.
A multidão foi influenciada pelos malditos padres da Igreja Católica que acusavam os hebreus de serem a causa de uma seca, fome e peste que assolavam o Reino.
“ Três dias de massacre se sucederam, incitados por frades dominicanos que prometiam absolvição dos pecados dos últimos 100 dias para quem matasse os hereges”.
Não podemos nos esquecer que a Inquisição ainda não havia sido estabelecida em Portugal.
Não podemos nos esquecer que haviam só passado “nove anos da conversão forçada dos judeus em Portugal, em 1497”.
Deveria haver mesmo centenas de judeus, pois “93 mil judeus refugiaram-se em Portugal nos anos que se seguiram à sua expulsão de Espanha em 1492 pelos Reis Católicos”.
Dom Manuel estava a caminho de Beja, para visitar a mãe, Dona Beatriz de Portugal, Duquesa de Viseu, e foi avisado dos acontecimentos em Lisboa
Mandou magistrados para tentar pôr fim ao banho de sangue, mas como as autoridades presentes quando do início da matança, foram obrigados a fugir.
Dois fatos acabaram com a Matança da Pascoa de 1506:
a-     O medo que os padres tiveram porque a plebe ignara matou o Escudeiro do Rei, João Rodrigues Mascarenhas, pessoa querida do Monarca, morto por engano;
b-    A chegada das Tropas Reais.

“D. Manuel I penalizou os envolvidos, confiscando-lhes os bens, e os dominicanos instigadores foram condenados à morte por enforcamento”.
“ Os representantes da cidade de Lisboa foram expulsos do Conselho da Coroa (equivalente ao atual Conselho de Estado), onde tinham assento desde 1385, quando o Rei Dom João I lhes concedeu esse privilegio pelo seu apoio à sua campanha pela conquista do Trono português”.
Entretanto, “muitas famílias judaicas fugiram ou foram expulsas do país, tendo como destino principal os Países Baixos e secundariamente, França, Turquia e Brasil, entre outros. Mesmo expulsos da Península Ibérica, os judeus só podiam deixar Portugal mediante o pagamento de "resgate" à Coroa. No processo de emigração, os judeus abandonavam suas propriedades ou as vendiam por preços irrisórios e viajavam apenas com a bagagem que conseguissem carregar”.

Como fruto do Massacre e consequente castigo dos culpados cresceu o antissemitismo em Portugal, que teve como consequência do estabelecimento do Tribunal do Santo Ofício — que entrou em funcionamento em 1540, perdurando até 1821.




Frades Dominicanos

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Inquisição Espanhola

Inquisição Espanhola

Inquisição Espanhola

 
Escudo da Inquisição espanhola (1571).
Ladeando a cruz, a espada, símbolo do castigo aos hereges e o ramo de oliveira, símbolo da reconciliação com os arrependidos.
Em latim, a inscrição «Exurge Domine et judica causam tuam. Psalm. 73» (Levantai-vos, ó Deus, e defendei a vossa causa;" salmo 73;22).


Os Reis Católicos, Fernando de Aragon e Isabel de Castela
"Reyes de las Españas"

Quem foram os Reis Católicos?
1-     Rei Fernando: Rey de Aragón (Aragão), de Sicília, Valencia, Mallorca y Cerdeña, de Nápoles, de Granada, de Navarra. Rei consorte de Castilla (Castela). Príncipe de Gerona, Conde de Barcelona, Administrador de la Orden de Santiago, Governador do Reino de Castilla. Virreyes y lugarteniente general de Cataluña durante a guerra civil catalã de 1462-1472, na qual participou ativamente, ficou familiarizado com a administração de um Estado.
Nasceu em: Sos del Rey Católico es un município espanhol da comarca de las Cinco Villas, ao noroeste de la província de Zaragoza, comunidade autónoma de Aragón.
Data: 10 de março de 1452
Pai e antecessor nos Tronos: Juan II de Aragón, el Grande. Rei de Aragón, de Navarra, da Sicília, de Mallorca, de Valencia, de Cerdeña, Duque de Peñafiel, de Montblanc, Conde de Mayorga y de Ribagorza, Senhor de Balaguer, Senhor de la villas de Alba de Tormes, Castrojeriz, Medina del Campo, Olmedo, Cuéllar, el Colmenar, Paredes de Nava, Villalón, Haro, Belorado, Briones, Cerezo y Roa.
Mãe: Doña Juana Enríquez y Fernández de Córdoba. Reina consorte, Señora de Casarrubios del Monte. Filha de Fadrique Enríquez, II Almirante de Castilla, II señor de Medina de Rioseco y primer Conde de Melgar y Rueda, de Marina Fernández de Córdoba y Ayala, Señora de Casarrubios del Monte.
Casa Real (Dinastia): Casa de Aragón –Trastámara
Faleceu em: Madrigalejo um município espanhol, na província de Cáceres, Comunidade Autónoma de Extremadura. Na época domínio da Coroa de Castilla (Castela).
Data: 23 de janeiro de 1516, com 63 anos.
Casamentos:
a-     Em 19 de outubro de 1469 com Isabel I de Castilla, no Palacio de los Vivero de Valladolid. Valladolid é um município e uma cidade espanhola situada no noroeste da península ibérica, capital da província de Valladolid, sede de las Cortes e da Junta de la comunidade autónoma de Castilla y León;
b-    Com 53 Anos, em 19 outubro de 1505, casamento por procuração com Germana de Foix, de 18 anos, filha de Juan de Foix, Infante de Navarra, Conde d’Étampes e Visconde de Narbonne, e de Maria de Orleans, irmã de Luís XII, Rei de França. O matrimonio foi consumado na cidade Palencia de Dueñas, Castela e Leon, a 18 de março de 1506, no Palácio dos Condes de Buendía. Reina consorte de Aragón y Reina consorte de Navarra y virreina (Vice-rainha) de Valencia, com o segundo marido, Fernando de Aragón, nobre napolitano, Duque de Calabria, virrey (Vice-rei) de Valencia.

2-     Rainha Isabel I: Reina de Castilla y Granada, Reina consorte de Aragón, de Mallorca, de Valencia, da Sicília, de Nápoles y Condessa consorte de Barcelona. Princesa de Astúrias.
Nasceu em: Madrigal de las Altas Torres, cidade e município da Espanha pertencente à província de Ávila, na comunidade autónoma de Castilla y Leon
Data: 22 de abril de 1451
Pai: Juan II de Castilla, Rey de Castilla. Príncipe de Astúrias, Gran Maestre de la Orden de Santiago
Mãe: Dona Isabel de Portugal, ou Isabel de Avis, Reina consorte de Castilla. Filha do Infante Dom João de Portugal e de Dona Isabel de Bragança, filha de Afonso, 1.º Duque de Bragança e de Beatriz Pereira de Alvim (filha de Leonor de Alvim e de Dom Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal).
Casa Real (Dinastia): De nascimento Casa de Avis, segunda dinastia a reinar em Portugal. Por casamento Casa de Trastámara.
Faleceu em: Palacio Real de los Reyes Católicos o Palacio Real Testamentario, de Medina del Campo, Valladolid.
Data: 26 de novembro de 1504, com 53 anos.
Com Fernando teve os seguintes filhos:
1-     Isabel (1 ou 2 de outubro de 1470 - 1498), Princesa das Astúrias (1476 - 1480; 1498), casou-se com o infante Alfonso, mas após a sua morte em 1495 casou-se com o primo do falecido, Manuel, que era o Rei de Portugal com o nome de Dom Manuel I, o Venturoso. Ele foi Rainha de Portugal entre 1495 e 1498, morrendo no parto de seu primeiro filho Miguel de Paz.
2-     Juan (30 de junho 1478 - 1497), o Príncipe das Astúrias (1480 - 1497). Em 1497, casou-se com Margarida da Áustria, filha do Imperador Maximiliano I de Habsburgo. Ele morreu de tuberculose logo depois. Margarida foi para a Espanha e foi responsável por seu sobrinho Carlos, futuro Imperador Carlos V.
3-     Juana I de Castela (6 de novembro 1479 - 1555), Princesa das Astúrias (1502 - 1504), Rainha de Castela (1504 - 1555), sob o nome de Joanna. Em 1496, casou-se com Filipe, o Belo, filho do imperador Maximiliano I de Habsburgo.
O casal formou a nova Casa Real, a Casa da Áustria, os Habsburgos espanhóis.
Em 1500 Juana tornou-se de seu primeiro filho, o futuro Carlos I, Rei de Espanha e Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano. Em 1503, ela deu à Luz a Fernando, sucessor de Carlos no Santo Império Romano como Ferdinand I, chefe da Imperial da Casa de Habsburgo. Mentalmente afetada pela morte de seu marido, ela foi internada por seu pai, o Rei Fernando, em Tordesilhas, onde morreu.
4-     Maria (29 de junho 1482 - 1517), casou-se em 1500 com o viúvo de sua irmã Isabel, Dom Manuel I de Portugal. Ela era a mãe de dez filhos, entre eles: Dom João III, décimo quinto Rei de Portugal, cognominado O Piedoso, Dom Henrique I décimo sétimo Rei de Portugal, o Cardeal-Rei de Portugal, e da Imperatriz Isabel esposa de Carlos V.
5-     Catalina, Catarina de Aragão (16 dezembro 1485 - 1536), casou com o Príncipe Arthur de Gales em 1502, que morreu alguns meses depois do casamento. Em 1509 ele se casou com o irmão de seu falecido marido, que seria Henrique VIII. Por isso ela se tornou Rainha consorte da Inglaterra. Mãe da Rainha Maria I de Inglaterra, Mary Tudor, a sanguinária.
“Rainha Dona Isabel I de Castela e o Rei Dom Fernando II de Aragão, unificaram os reinos ibéricos, menos Portugal, no país que se tornou Espanha”.
“Apesar de aspirações diferentes dos dois reinos — Aragão dedicava-se ao comércio graças aos seus portos dinâmicos, como Barcelona e as suas possessões em Itália, e Castela aspirava afirmar-se na Europa — souberam estes reinos, através de frutuosa diplomacia e propaganda, construir um sólido Estado que, com a sua determinação, soube financiar a odisseia marítima de Cristóvão Colombo, e preparar-se para a grande cruzada iniciada em 722, denominada a Reconquista, ou seja, a expulsão dos muçulmanos do território ibérico”
O Marco do início da Reconquista foi Batalha de Covadonga, em 722, na localidade de Covadonga, perto Cangas de Onis, Principado das Astúrias, quando um pequeno exército, liderado pelo nobre Pelágio, um nobre visigodo, filho do Duque Favila, mas estabelecido naquela região, derrotou um exército de Uthman ibn Naissa (ou Otman ben Neza), cognominado Munuza, governador muçulmano do norte da Espanha, e estabeleceram um pequeno principado cristão em Astúrias
Com a Capitulação de Granada, situada na região da Andaluzia, fundada em 756 pelos árabes, desde o século XIII a capital do reino muçulmano de Granada, em 2 de janeiro de 1492, vista como um grande golpe para o Islã e um triunfo do cristianismo, está encerrado o Ciclo da Reconquista.
“Tratado de Granada foi assinado e ratificado em 25 de novembro de 1491 entre o Rei de Granada, Abú `Abd Allah Muhammad Boabdil, e Dom Fernando II de Aragão e Dona Isabel de Leão e Castela”.
Por esse Tratado haveria a “preservação de direitos aos muçulmanos, que não viriam a ser cumpridas.
Mias, por esse feito, Dom Fernando II de Aragão e Dona Isabel de Leão e Castela, receberam o Título de Rex Catholicissimus.
E aqui existem duas versões:
1-     Papa Inocêncio VIII (1434 -1492) teria sido o primeiro a impor o nome de "Reis Católicos" ao casal Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, após a captura de Granada, já que em seu túmulo em mármore, no Vaticano, obra do escultor Antonio Pollaiuolo, existe uma inscrição em latim, que é REGI HISPANIARUM CATHOLICI NOMINE IMPOSITO - + ou -: Que impôs o nome católico aos Reis de Espanha”.
2-     Pela Bula Inter caetera de 4 de maio de 1494, o Papa Alexandre VI enaltece o fervor cristão dos Reis de Espanha, e os exorta “honrar o mesmo Deus espalhando o império cristão”.
O mesmo Alexandre VI pela Bula Si convenit de 19 de dezembro de 1496 reconhece o Título de “Reyes Católicos" em favor de Fernando e Isabel.
Essa Bula foi redigida por três Cardeais - Oliverio Caraffa, Arcebispo de Nápoles, e outros títulos, o Francesco Nanni Todeschini Piccolomin, futuro Pio III, e Jorge Costa, cognominado Cardeal de Alpedrinha, Cardeal-presbítero de São Lourenço em Lucina, Cardeal-bispo de Porto e Santa Rufina, Arcebispo de Braga, Primaz das Espanhas.
Nessa Bula foram pela primeira vez tratados como “rey y reina de las Españas”.

Os três Cardeais, consequentemente o Papado, embasaram a concessão do Título de Reis Católicos em seis causas, já que não queria conceder uma honra já dada a outrem, como “defensores ou protetores”:

1. As virtudes pessoais que possuíam ambos Reis manifestadas na unificação, pacificação y fortalecimento de seus reinos.
2. A reconquista de Granada das mãos do Islã.
3. A expulsão dos judeus que não aceitaram o batismo, em 1492.
4. Os esforços dos dois monarcas na cruzada contra os muçulmanos.
5. A liberação dos Estados Pontifícios e do Reino de Nápoles, feudo papal, invadidos por Carlos VIII, Rei de França, a quem se havia outorgado o título de "Cristianíssimo".
6. Como compensação pelo Papado ter concedido o título de “Cristianíssimo" ao Rei da França.
Frei Bartolomé de las Casas, dominicano nomeado Procurador o protector universal de todos los índios, se dirigiu a Fernando e Isabel como "Rey y Reina de las Españas":  Porque cristianísimos y muy altos y muy excelentes y muy poderosos Príncipes, Rey y Reina de las Españas y de las islas de la mar, Nuestros Señores, este presente año de 1492, después de Vuestras Altezas aver dado fin a la guerra de los moros ...
Observação: Alexander VI, seu nome de nascimento era Roderic de Borja (Rodrigo Borja em castelhano ou Borgia em italiano). Filho de Jofre Gil Llançol i Escrivà, e de Isabel de Borja i Llançol, irmã de Afonso Borgia, Bispo de Valencia e futuro Papa Calixto III.
Nasceu em Játiva, Valencia, então Reino de la Corona de Aragón, em 1 de janeiro de 1431, e morreu envenenado na residência de Adriano Castellesi, cardinale di Santa Romana Chiesa, Roma, no dia 18 de agosto de 1503, com 72 anos.
214º Papa da Igreja Católica de 11 de agosto de 1492 até 18 de agosto de 1503.
Pelo seu relacionamento com a nobiledonna romana Vannozza dei Cattanei, que começou em 1470, foi pai dos celebres:
Cesare Borgia (1476-1507), 1.º Duque de Valentinois
Lucrezia Borgia (1480-1519)

Os Reis Católicos e a América:
Cristóvão Colombo contou com a proteção dos Reis Católicos, mas de Isabel, do que de Fernando, para seu “ projeto para viajar para as Índias em uma nova rota através do Atlântico”.
Colombo foi nomeado “Almirante, Vice-rei, e governador dos territórios a descobrir e a décima parte de todos os bens obtidos”.
Em 3 de agosto de 1492, Colombo partiu do porto de Palos, a bordo Nau Santa Maria, de propriedade de Juan de la Cosa, acompanhada pelas Caravelas Pinta de propriedade dos irmãos Pinzón, e Niña de propriedade dos irmãos Niño.

 “Por causa dessa viagem é que foi assinado o Tratado de Tordesilhas, assinado na povoação castelhana de Tordesilhas em 7 de junho de 1494, foi um tratado celebrado entre o Reino de Portugal e o recém-formado Reino da Espanha para dividir as terras "descobertas e por descobrir" por ambas as Coroas fora da Europa. Este tratado surgiu na sequência da contestação portuguesa às pretensões da Coroa espanhola, resultantes da viagem de Cristóvão Colombo, que um ano e meio antes chegara ao chamado Novo Mundo, reclamando-o oficialmente para Isabel, a Católica”.
“O tratado definia como linha de demarcação o meridiano 370 léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. Esta linha estava situada a meio caminho entre estas ilhas (então portuguesas) e as ilhas das Caraíbas descobertas por Colombo, no tratado referidas como "Cipango" e Antília. Os territórios a leste deste meridiano pertenceriam a Portugal e os territórios a oeste, à Espanha. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de julho e por Portugal a 5 de setembro de 1494”.

A Inquisição espanhola
ou
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição

A maior parte da península Ibérica estava povoada pelos muçulmanos.
“As cidades mais importantes, como Sevilha, Valladolid e Barcelona (capital do Reino de Aragão), tinham grandes populações de judeus em guetos”.
“Muitos judeus convertidos, como os Santa Fe, Santángel, Caballería, e Sánchez, ocupavam postos de importância, tanto religiosos como políticos, mas Fernando de Aragão desejava as religiões judaica e muçulmana fora de seus domínios”
“ Fernando devia muito dinheiro aos judeus, com a Inquisição além dessa dívida acabar, ele podia enricar confiscado os bens dos financistas judeus”.
“Muitos de seus opositores eram judeus, ou financiados, ou amigos dos judeus e dos mulçumanos, o que impedia Fernando de governar como queria, como planejava, a seu belo prazer, e com a Inquisição instalada sob seu comando, ele podia enfraquecer oposição ”.
Só tinha uma solução, era a instalação da Inquisição, do Tribunal do Santo Ofício, em nome do combate a heresia, aos hereges, aos judeus e aos mouros/mulçumanos, para obter assim a Unidade Religiosa das Espanhas.
O frade dominicano Alonso de Ojeda convenceu a Isabel, durante sua estadia em Sevilla entre 1477 e 1478, da existência de práticas judaizantes entre os conversos andaluzes, o que foi corroborado por Pedro González de Mendoza, Arcebispo de Sevilla, e por Tomás de Torquemada, o futuro terrível Inquisidor.
Papa Sixto IV, nascido Francesco della Rovere, não desejava a Inquisição instalada na Espanha, porque fortaleceria um Soberano que tinha interesses territoriais na Itália, e com isso podia ameaçar o Papado.  
Fernando insistiu, e convenceu a Rodrigo Borgia, então Bispo de Valência, a usar de sua influência em Roma, e o futuro Papa Alexandre VI teve êxito.
A Inquisição foi instalada através da Bula Exigit sinceras devotionis affectus de 1 de novembro de 1478 no Reino de Castela.
Entretanto a nomeação dos Inquisidores era de competência dos Reis das Espanhas.
“No início, a atividade da Inquisição foi limitada às dioceses de Sevilha e Córdoba, onde Alonso de Ojeda tinha detectado o foco de judaizantes convertidos”.
“O primeiro Auto de Fé foi realizado em Sevilha em 06 de fevereiro de 1481, quando foram queimadas vivas seis pessoas”.

Tomás de Torquemada, 

Sixto IV e o Rei Fernando viviam se desentendo, pois, o Papa não queria estender a Inquisição para Aragão, contudo acabou cedendo, e em 17 de outubro de 1483 foi nomeando Tomás de Torquemada, o Grande Inquisidor, el martillo de los herejes, la luz de España, el salvador de su país, el honor de su orden (o martelo dos hereges, a luz da Espanha, El Salvador, em seu país, a honra da sua Ordem) como Inquisidor-geral dos reinos de Castela e Aragão.
“Juan Antonio Llorente, primeiro historiador da Inquisição, garante que queimaram mais de dez mil pessoas e mais de cem mil sofreram punições degradantes durante o seu mandato”, o de Torquemada.
“Torquemada difundia que os judeus não eram confiáveis e que o país precisava possuir apenas ‘sangre limpia’, ou seja, sangue puramente cristão, e para estimular as delações, chegou a publicar um conjunto de orientações que ensinava os católicos a vigiar os seus vizinhos e a reconhecer possíveis traços de judaísmo”:
“Se observar que os seus vizinhos vestem roupas limpas e coloridas no sábado, eles são judeus”.
“Se eles limpam as suas casas às sextas-feiras e acendem velas mais cedo do que o normal naquela noite, eles são judeus”.
“Se eles comem pão ázimo e iniciam a sua refeição com aipo e alface durante a Semana Santa, eles são judeus”.
“Se eles recitam as suas preces diante de um muro, inclinando-se para frente e para trás, eles são judeus."
“A pena mais leve imposta era o confisco dos seus bens. Os Reis Católicos, Isabel e Fernando, precisavam de receitas, e a perseguição movida aos hereges por Torquemada era uma fonte de renda que interessava ao Estado”.
Foram 5 os períodos da Inquisição Espanhola, a saber:
1-     De 1480-1530, foi marcada por intensa perseguição de judeconversos, aos judeus convertidos, ou os marranos, uma expressão pejorativa, que se crê significar porcos;
“Entre os anos 1486 e 1492, 25 autos-de-fé ocorreram em Toledo. Um total de 464 autos-de-fé contra judeus ocorreram entre 1481 e 1826. No total, mais de 13 mil conversos foram julgados entre 1480 e 1492”.
2-     A partir do início do século XVI uma relativa calma;
3-     Entre 1560 e 1714, uma intensa atividade do Santo Ofício contra os protestantes e os mouros. Foram condenados por ser judaizantes 5.007 pessoas; mouros 11.311 pessoas; Luteranos 3.499 pessoas; Illuminati 149 pessoas; Superstições 3.750 pessoas; proposições heréticas 14.319 pessoas; bigamia 2.790 pessoas; solicitações depravadas 1.241 pessoas; insultar o Santo Ofício 3.954 pessoas; vários outros crimes 2.575 pessoas.
4-     O resto do século XVII, em a maioria das pessoas julgadas é de cristianos viejos – velhos cristãos- que enfraqueceram na fé, pecaram das mais variadas maneiras.
5-     No o século XVIII, onde a heresia deixa de ser o centro das atenções do tribunal, são outras as causas que ao Santo Oficio são levadas, as mesmas do século XVII.
“Vale a pena mencionar a repressão inquisitorial de dois crimes sexuais na época em que costumava ser associado, com o fundamento de ambos, de acordo com o direito canônico, contra a natureza: a homossexualidade e bestialidade. A homossexualidade, na época chamado de "sodomia" foi punido com a morte por tribunais civis. Foi a responsabilidade da Inquisição somente nos territórios da Coroa de Aragão, uma vez que em 1524 Clemente VII, em um Breve Papal, jurisdição concedida à sodomia Inquisição Aragonês, ou não estavam relacionadas com a heresia. Em Castilla foram julgados há casos de sodomia, a menos que eles estavam relacionados a desvios heréticas. O tribunal de Zaragoza distingue pela sua gravidade julgar esse crime: entre 1571 e 1579 foram julgados em Zaragoza mais de cem homens acusados ​​de sodomia, e pelo menos 36 foram executados; no total, entre 1570 e 1630 eles receberam 534 processos e 102 pessoas foram executadas”.

Na Coroa de Castela foram estabelecidos os seguintes tribunais permanentes da Inquisição:
Em 1482 em Sevilha e Córdoba.
Em 1485, em Toledo e em Llerena.
Em 1488, em Valladolid e Murcia.
Em 1489, em Cuenca.
Em 1505, em Las Palmas.
Em 1512, em Logroño.
Em 1526, em Granada.
Em 1574, em Santiago de Compostela.
Para a Coroa de Aragão:
Em 1482 Zaragoza e Valencia.
Em 1484 Barcelona.
Em 1488 Maiorca.
Fernando, também, introduziu a Inquisição na Sicília (1513), com sede em Palermo, e na Sardenha.
Na América, em 1569 os tribunais foram criados em Lima e no México, e em 1610 em Cartagena de Índias.

Composição dos tribunais:
a-     Os inquisidores eram preferencialmente juristas, e menos teólogos;
b-    O procurador foi responsável pelo desenvolvimento da acusação, investigando queixas e questionar testemunhas;
c-     Os qualificadores geralmente teólogos aquém competia determinar se houve um crime contra a fé na conduta do réu.
d-    Os consultores eram juristas especialistas que aconselhou o tribunal em questões de casuística processual.
e-     Um secretário -notário de sequestro que gravou as propriedades do acusado no momento da sua prisão.
f-      Um secretário- notário do segredo, que escreveu as declarações dos acusados e das testemunhas.
g-     Escrivão geral, funcionário do tribunal.
h-    O xerife era o braço executivo do tribunal, pois era sua função prender e deter os acusados.
i-        O nuncio, encarregado de difundir os comunicados do Tribunal.
j-       O Alcaide.
k-     O carcereiro encarregado de alimentar os presos.
l-       Os comissários, por sua vez, eram sacerdotes regulares que colaboravam ocasionalmente com Santo Ofício.
Era uma honra pertencer a Família do Santo Oficio, pois provava que a pessoa era ‘limpa de sangue’, não era nem judia, nem moura.
Os ‘familiares’ eram colaboradores laicos do Santo Oficio, que deviam estar permanentemente ao serviço da Inquisição.
“Um dos aspectos mais marcantes da organização da Inquisição é o seu financiamento: desprovido de seu próprio orçamento, dependia exclusivamente sobre o confisco dos bens dos criminosos. Não é de surpreender, portanto, que muitos dos acusados ​​eram homens ricos”.
“A Inquisição não funcionou de forma alguma aleatoriamente, mas de acordo com o direito canônico, e bom sempre lembra disso, e seus procedimentos eram explicitados pelas “ Instruções” elaboradas pelo Inquisidores-gerais”.
“ A Inquisição foi finalmente abolida em 15 de julho de 1834 por um decreto real assinado pela Regente Maria Cristina de Borbón, durante a minoria de Isabel II, graças a proposta do Presidente do Conselho de Ministros liberal moderado Francisco Martinez de la Rosa”.

María Cristina de Borbón-Dos Sicilias
Reina de España
Vicente López Portaña
Museo Nacional del Prado



Enfim, foi um tempo negro na História da Humanidade, uma vergonha para a Igreja Católica Apostólica Romana, para Soberanos que dela se valeu para assim consolidar o seu poder, para mim a maior Mancha na Cristandade.  

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Os judeus ante a nobreza luso-espanhola.

Judíos de principios del siglo XV.
Retablo de la catedral de Barcelona
por Jaume Huguet (1412-1492)

Uma classe social é um grupo de pessoas que têm status social similar segundo critérios diversos, especialmente o econômico, bem como o de que família pertence e nasceu, o chamado ter ou não "berço".  Diferencia-se do conceito casta social na medida em que ao membro de uma dada ‘casta’ normalmente é impossível mudar de status, de casta, como na Índia.
Na Idade Média um Estado era composto por três Classes:
1-     O Clero, o Primeiro Estado: que se dedica ao serviço de Deus, composto por Cardeais, Bispos, Abades, padres, frades e monges;
2-     A Nobreza, o Segundo Estado: que se dedica a defender o Estado pelas armas e trata de assuntos de governo e justiça, composto pela Família do Soberano, e pelos nobres de Espada ou de Toga;
3-     O Povo, o Terceiro Estado, a plebe: que se dedica a alimentar e manter as demais classes, ou seja, o Clero e a Nobreza, e era composto pela burguesia, pelos camponeses e os trabalhadores urbanos, ou seja, o restante da população.

Portanto, o significado de Nobreza – Substantivo, singular, feminino.
Característica ou particularidade do que é nobre.
A classe da qual os nobres fazem parte; aristocracia.
Reunião das famílias consideradas nobres de uma determinada localidade; aristocracia.
Cujo caráter é generoso; magnanimidade.
Propriedade conferida a famílias ou pessoas cuja origem é nobre; em que há pureza, boa educação, requinte, bons comportamentos etc.
O que expressa ou contém excelência; elevação.
Antigo. Designação do tecido de seda.
(Etm. nobre + eza)
Sinônimo de nobreza: aristocracia, elevação, generosidade, liberalidade, magnanimidade e munificência (particularidade do que é munificente = que há ou expressa generosidade; que é generoso em excesso; magnânimo. (Etm. do latim: munificens.entis)


Bem, eu não concordo muito com esses sinônimos “generosidade, liberalidade, magnanimidade e munificência”, porque muitos nobres não passaram de grandes patifes.
A História está cheia de nobre:
1-     Vaidosos,
2-     Ociosos,
3-     Ambiciosos,  
4-     Ladrões,
5-     Dilapidadores dos recursos do Estados (Luís XIV, Nicolas Fouquet, Marquês de Belle-Île, Visconde de Melun et Vaux e Jean-Baptiste Colbert),
6-     Espoliadores dos interesses das pessoas (o Regente Felipe d’Orleans e John Law),
7-     Exploradores do povo (Luís XIV, Rei Sol, Luís XV, o Bem-Amado, Luís XVI, o Decapitado),
8-     Traidores de suas Nações (Domingos Fernandes Calabar, senhor de engenho na capitania de Pernambuco, aliou-se aos Holandeses)  
9-     Traidores de seu soberano (Mirabeau- Riqueti Honoré Gabriel, Conde de Mirabeau - Alexandre de Beauharnais, dito Visconde de Beauharnais, Paul François Jean Nicolas, Visconde de Barras, entre outros),
10-Trânsfuga (o exemplo máximo é Louis Philippe Joseph d'Orleans, Duque de Orleans, também chamado Philippe Égalité, devido às suas opções políticas liberais e jacobinas, que votou favoravelmente a execução do seu próprio primo, Luís XVI, o Rei de França),
11-Rebeldes sem causa, só por serem rebeldes, etc e tal.

La fausse noblesse, ou a falsa nobreza:
Nada mais natural no homem do que ambicionar por um status mais elevado do que aquele em que nasceu, ao status de sua família de origem, portanto a existência dos chamados “ falso nobres” tem que ser encarada como uma fraqueza do gênero humano.
Antigamente essas pessoas, quando descobertas, sofriam uma sanção por tal pretensão e “era emitida uma multa por "usurpação da nobreza."
Contudo, em nossos dias ainda existem muitos e muitos “ falso nobres”.

Muitos judeus foram elevados a nobreza, como alguns membros da Família Rothschild, exemplifico:
1-     Mayer Amschel Rothschild, fundador da Dinastia, postumamente enobrecido pelo imperador Francisco I da Áustria;
2-     Salomon Mayer von Rothschild, o Imperador Francisco I concedeu-lhe o título hereditário "Freiherr" (Baron);
3-     Nathan Mayer Rothschild ou Nathan Mayer, Freiherr von Rothschild, o Imperador Francisco I concedeu-lhe o título hereditário "Freiherr" (Baron);
4-     Kalman Mayer Rothschild ou Barão Carl Mayer von Rothschild, o Imperador Francisco I concedeu-lhe o título hereditário "Freiherr" (Baron), banqueiro no Reino das Duas Sicílias e fundador da família de banqueiros Rothschild de Nápoles;
5-     Jakob Mayer Rothschild, ou James Mayer de Rothschild, Baron de Rothschild, fundador do ramo francês da família Rothschild. Grande Oficial da Legião de Honra.

Vamos a Portugal:
a-     Fernão de Noronha, também chamado Fernando de Noronha, corruptela de Fernão de Loronha (seu verdadeiro nome), 1.º Senhor da Ilha de Fernando de Noronha (c. 1470 - Lisboa, c. 1540) judeu português convertido ao catolicismo (cristão-novo) que se tornou um grande explorador de pau-brasil no Brasil. Representante do banqueiro Jakob Fugger na Península Ibérica.
Observação: Jacob Fugger, conhecido como "o rico", usou parte da sua fortuna para emprestar dinheiro a governantes e foi o primeiro não-português a investir no Brasil, ainda em 1503.
b-    Martim Afonso de Loronha (c. 1470 -?), irmão do precedente, escrivão do mestrado da Ordem de Cristo.

Quer “ pela letra inicial, o L, não ter valor, quer para se integrar na qualificada família dos de Noronha, fazendo assim desaparecer o sinal da sua origem hebraica e, ao mesmo tempo, adquirir maior consideração, os descendentes abandonaram aquela forma e, atualmente, se chamam de Noronha, parecendo que nenhum retém a de Loronha”.

Mais dos judeus:

Em “Subsídios para o estudo genealógico dos judeus e cristãos-novos
e a sua relação com as famílias portuguesas. Séculos XV e XVI”, de Manuel Abranches de Soveral, nascido em Vila Nova de Gaia, Mafamude, 06.09.1953, é um escritor, investigador na área da História e Genealogia, jornalista, professor e editor português, lemos alguns trechos como esses:

Sem querer aqui entrar no regime jurídico e fiscal em vigor no século XV para os judeus, convirá referir que existiam excepções, pois são várias as cartas de privilégio passadas pelo rei a judeus, escusando-os por exemplo de usar o sinal, de pernoitar nas judiarias, permitindo-lhes andar por todo o reino, nalguns casos montados e armados. Podiam mesmo ter a qualidade de vizinhos, como é o caso, por exemplo, Isaque Abravanell, judeu, mercador, morador na cidade de Lisboa, que a 7.10.1472 o rei recebeu por vizinho da dita cidade, com todos os privilégios, liberdades e franquezas, como têm os cristãos vizinhos e moradores da dita cidade.
O casamento entre judeus e cristãos estava proibido, bem como todas as relações carnais, havendo alguns casos de condenação por isso.
Mas é evidente que havia de tudo, embora globalmente se possa dizer que a comunidade judaica era mais rica do que o povo português e até do que muita nobreza. Sobretudo após o êxodo de Castela, que começou no final do séc. XIV, donde em geral vieram os mais ricos, já que era preciso pagar para cá entrar...
A própria comunidade judaica teria certamente a sua nobreza própria, e o estatuto social e económico de algumas famílias judias era muito alto. Nestes casos, os homens chegavam a ter o tratamento de Dom e as mulheres de Dona. E podiam instituir e possuir morgadios, como é o caso, por exemplo, de Gabriel Ben Crespo, morador na cidade de Lisboa, que a 24.9.1450 teve confirmação real da doação de um morgadio, com todos os privilégios, honras, graças, mercês, liberdades, usos e costumes, feita a 31.1.1436 por Abraao Romeiro e Lidiça, sua mulher, que o haviam recebido por morte de D. Mousen Navarro, rabi-mor, que morrera sem herdeiros. E já D. Pedro I tinha confirmado a Isac Navarro a administração do morgado de Mousen Navarro e sua mulher Salva (1, 77v), onde se transcreve a carta de instituição.
De resto, ficaram alguns selos e matrizes sigilares medievais que demonstram que os judeus já então usavam em Portugal não só selos pessoais, mas também selos inequivocamente heráldicos, como é o caso de um exemplar datado do séc. XIII (aproximadamente), que tem um castelo de três torres no interior de dois círculos concêntricos, entre os quais se desenvolve a legenda em caracteres hebraicos.
Certos judeus ou cristãos-novos conseguiram mesmo chegar à nobreza portuguesa, como é o caso bem conhecido dos Castro do Rio. E o caso, também, do rico mercador judeu Jocob Baru, falecido em 1471, cujo filho foi para primeiro para a Holanda e depois para Inglaterra, onde o rei Edward IV o baptizou de pé com o nome de Edward Brampton, o armou cavaleiro (documenta-se como Sir) e lhe deu o governo da ilha de Guernsey. Com a morte deste rei voltou a Portugal, adoptando o nome de Duarte Brandão, tendo comprado a lezíria da Corte dos Cavalos, no termo de Azambuja, a D. João de Almeida, e a vila de Buarcos, com as marinas de Tavarede e a dízima nova de Montemor, a Martim de Sepúlveda, tudo bens da coroa que D. João II lhe doou de juro e herdade a 14 de Janeiro e 22 de Maio de 1487, sendo então já do Conselho deste rei e continuando a sê-lo com D. Manuel.
Paradigmático também é o caso dos Espargosa e dos Alte, que foram nobilitados, não só eles mas retroactivamente os seus ascendentes. O doutor Cristóvão Esteves de Espargosa, desembargador dos feitos da fazenda de D. João III, e sua mulher Isabel da Pinta, foram senhores da quinta de Espargosa, no termo de Mértola, que instituíram em morgadio (7.6.1543), vinculando-lhe ainda a quinta de Vale da Pinta, no termo de Santarém, a herdade do Moutinho, no termo de Mértola, e casas e a quinta da Silveira, no termo de Évora. Cristóvão Esteves foi nobilitado, adoptando no nome da sua quinta (Espargosa), que D. João III privilegiou como solar da família e a quem deu carta de armas novas. Era judeu e fora baptizado de pé, sendo filho de Mestre Estêvão (Isac antes do baptismo), boticário em Beja, e sua mulher Branca Esteves. O Doutor Cristóvão Esteves, que a 29.8.1533 teve de D. João III carta de privilégio que supria o seu «defeito de nascimento», foi primeiro procurador dos feitos da fazenda, pelo menos desde 1518 até 14.9.1521. Deste Cristóvão Esteves foi irmão o licenciado Bernardim Esteves de Alte, desembargador do Paço, senhor da herdade de Alte, no termo de Serpa, de que tirou o nome e que também foi nobilitado por D. João III e confirmado por D. Filipe I em 1583, sendo pai do doutor Cristóvão Esteves de Alte, nascido na corte de Lisboa, doutorado em Leis pela Universidade de Coimbra a 9.6.1553, onde foi lente de Instituta (16.11.1551) , sendo também chanceler e desembargador da Casa da Suplicação, e do doutor Bernardim Esteves de Alte, lente de Vocações (1553) da Faculdade de Leis da Universidade de Coimbra, desembargador da Casa da Suplicação e do Paço, etc. O rei fez o dito licenciado Bernardim Esteves «Fidalgo, e nobre como se toda sua avoenga o fora», e como «se o dito sollar fora antigo, e os Pays, Avós, bisavós, e tresavós dos ditos L.dos Bernardim Esteves e Simão Gonçalves (Simão Gonçalves Preto, seu genro) fossem Fidalgos de sollar conhecido».
Os cristãos-novos
Com a conversão obrigatória de 1497, no reinado de D. Manuel I, todos os judeus que não conseguiram fugir do país foram baptizados compulsoriamente e tiveram que abandonar os seus nomes e adoptar nomes cristãos, quer nomes próprios quer de família. Se bem que, convém dizer, esta obrigatoriedade não se estendeu imediatamente aos domínios ultramarinos, na África e na Índia, onde os judeus puderam permaneceram como tal durante algum tempo e para onde alguns foram.
Portanto, se a maioria usou patronímicos e alguns mantiveram os nomes judeus menos evidentes, outros adoptaram os nomes de famílias pré-existentes, nomeadamente dos respectivos padrinhos, o que, nalguns casos, se documenta.
Um dos casos mais conhecidos de adopção de um nome nobre é o de Fernão ou Fernando de Noronha, um importante e rico mercador que, quando demandava as costas do Brasil em busca do «pau Brasil», descobriu a ilha a que deu o nome de S. Jorge ou S. João Baptista, mas que ficou conhecida pelo seu, ou seja, Fernando de Noronha. D. Manuel I fê-lo donatário da ilha (16.1.1504), que D. João III lhe confirmou por duas vidas (3.3.1522). Fernão de Noronha chamou-se inicialmente Fernan Martinez. Era irmão de um Martin Alfonso e ambos filhos de outro Martin Alfonso, todos ricos judeus castelhanos que fugiram para Inglaterra, onde prosperam a ponto de o rei britânico lhes ter dado carta de armas burguesas. Com seu irmão Martin Alfonso, que aqui parece que foi escrivão do mestrado da Ordem de Cristo, Fernan Martinez veio depois para Portugal, onde D. Manuel I o fez cavaleiro da sua Casa e lhe autorizou a 26.8.1506 o uso das armas dadas em Inglaterra, que são: escudo partido de prata e verde, na prata duas meias rosas de vermelho, moventes da partição; no verde duas meias flores de lis de ouro, também moventes da partição e pegadas às meias rosas, e no cantão do chefe uma pomba de prata voando.
Quando D. Manuel lhe reconheceu as armas já se chamava Fernão de Noronha e tinha sido baptizado em pé - como nomeadamente conta o genealogista e heraldista seiscentista Padre António Soares de Albergaria -, quando em Portugal os judeus foram obrigados a converter-se, tendo como padrinho D. António de Noronha, 1º conde de Linhares e escrivão da puridade (espécie de 1º ministro) de D. Manuel I, de quem tomou o nome de família.
Este fenómeno era então relativamente vulgar, quer no baptismo de judeus quer de mouros ou pretos, bem como escravos. Já no fim da vida, Fernão de Noronha foi mesmo tirado do conto plebeu e nobilitado por D. João III, a 28.6.1524, que o fez fidalgo de cota de armas, com o escudo que trouxera de Inglaterra e que já D. Manuel I lhe reconhecera.
De registar, ainda, que o abuso que em Portugal se verificou com a indevida adoção de nomes de linhagens nobres, por parte de quem a eles não tinha direito, levou as Ordenações Filipinas a legislarem duramente contra essa prática: "E nenhuma pessoa tome appelido de Fidalgo de Solar conhecido, que tenha terras com jurisdição em nossos Reinos, não lhe pertencendo, nem vindo de tal Linhagem, posto que seus pais assi se chamassem, se na verdade lhes não pertencia. E quem o fizer, perderá a fazenda, ametade para quem o accusar, e a outra para os Captivos, e perderá todo o privilegio, que per sua Linhagem e pessoa tiver, e ficará plebeo". Contudo, os cristãos-novos ficam excluídos: "Porém os que novamente se converterem à nossa Sancta Fé, poderão tomar e ter em suas vidas, e traspassar a seus filhos sómente, os appellidos de quaesquer Linhagens, que quizerem, sem pena alguma" (Livro V, Título XCII, § 9).

Fim dos trechos.

No estudo de Soveral temos: O casamento entre judeus e cristãos estava proibido, bem como todas as relações carnais, havendo alguns casos de condenação por isso, e não era diferente na Espanha onde havia “los estatutos de limpieza de sangre”, que servia para condenar os convertidos, tanto Judeus, quantos mulçumanos, sob suspeita de praticarem suas antigas religiões em secreto.
Por ele um Velho Cristão não podia nem casar com a filha de um Cristão-Novo, principalmente os da Nobreza, já que os membros desta assim agiam:
“ Entre la nobleza hispana era costumbre desnudar el brazo de la espada a fin de mostrar que las venas se podían ver claramente bajo la piel, es decir, que ellos provenían de familias hispanas puras, sin mezcla con gente de piel oscura (esta costumbre dio origen a la leyenda de que la nobleza es de "Sangre azul”) ”.
Tradução Livre:
“Entre a nobreza espanhola era costume desnudar o braço da espada para mostrar que as veias podiam ser claramente vistas sob a pele, ou seja, eles vieram das famílias hispânicas puras, sem misturar com pessoas de pele escura (essa prática deu origem a lenda da nobreza de “ Sangue Azul”. ”

Esse infame “estatutos de limpieza de sangre” só foi abolido por uma ordem régia de 31 de janeiro de 1835, no âmbito da revolução liberal espanhola, embora tenha permanecido até 1859 para oficiais do exército. Uma lei de maio 1865 aboliu os testes de sangue para casamentos e para determinados cargos civis e militares.

Bem isso posto, continuemos...