Marranos. Pintura de
Moshe Maimon (1893) retrata o Sêder de Pessach realizado secretamente em
Espanha, à época da Inquisição.
Por essas práticas o Tribunal
do Santo Ofício enviado ao Brasil processou, julgou e condenou centenas deles
ao confisco dos bens, à hábito perpétuo, cárcere privado, à prisão e por vezes
à morte, ainda que diversos deles tiveram a sorte de ser queimados “em estátua”,
mediante uma representação, castigo bem menos cruel do que os que foram
sentenciados a “queimar em carne”.
Estes cristãos novos foram
mais abundantes na Bahia, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e Minas Gerais onde
se dedicaram à mineração. Seria exaustivo documentar todos os casos a fim de
que se pudesse justificar a enorme lista de nomes usados por sefarditas que
publicamos nessa edição, e isso fugiria ao escopo desse trabalho.
No entanto, para aqueles que
não tiveram oportunidade de conhecer a história dos formadores dessa nação
incluímos aqui um trecho de uma dissertação de Anita Novinsky, no momento a mais
renomada pesquisadora sobre o passado judaico do Brasil que menciona a
condenação de 57 cristãos novos.
“Apesar do estágio inicial em
que se encontram as investigações sobre a população cristã-nova em Minas
Gerais, podemos dizer que seu número foi relativamente alto, uma vez que incluía
também os "assistentes" que residiam no Rio de Janeiro e na Bahia,
mas que passavam longos períodos em Minas Gerais. No "Livro dos
Culpados", que é a principal fonte para o conhecimento da população
cristã-nova no Brasil, encontramos anotados os nomes de todos os cristãos-novos
suspeitos, denunciados ou que foram presos.
Nele estão registrados 150
cristãos-novos residentes ou assistentes em Minas Gerais.
O número de cristãos-novos em algumas cidades do Brasil ultrapassou
o número de judeus que viviam em Amsterdã no período de sua maior efervescência
econômica e cultural.
Mas devemos ter em mente, que
somente é possível obter dados demográficos sobre cristãos-novos em determinadas
regiões do Brasil, através da contagem daqueles que foram presos pela
Inquisição ou a ela denunciados como judaizantes.
O número total será, portanto
sempre impreciso, pois a maior parte dos cristãos-novos que vieram para o
Brasil não foram presos, e diluíram-se em meio a população brasileira.
Em Minas Gerais arrolamos, até
o presente, aproximadamente 500 cristãos-novos entre denunciados e presos.
Lista de
Sobrenomes Judaico Sefarditas de Luso-brasileiros:
Analisando apenas 57
condenados de Minas Gerais temos o seguinte quadro: Os maiores números de
prisões de cristãos-novos foram feitas nos anos de grande produção aurífera
1728, 1729, 1730, 1732 e 1734, sendo seu número mais alto em 1728 e 1729, com 8
prisioneiros cada ano.
No Brasil foram queimados
21cristãos-novos (2 em estátua e 19 em carne). Entre os queimados em carne, 8
residiam ou "assistiam" em Minas Gerais, isto é aproximadamente 42%.
Dos prisioneiros do Brasil
somente os acusados de judaísmo receberam como sentença a pena de morte.
Foram queimados "em
carne" em Minas Gerais:
1) Miguel Mendonça Valadolid
1731,
2) Diogo Corrêa do Valle 1732,
3) Luís Miguel Corrêa 1732,
4) Domingos Nunes 1732,
5) Manoel da Costa Ribeiro
1737,
6) Luís Mendes de Sá 1739,
7) Martinho da Cunha Oliveira
1747,
8) João Henriques 1748”
(Ser marrano em
Minas Colonial, Anita Novinsky Universidade de São Paulo, Revista Brasileira de
História)
Nota-se nessa pequena lista,
só pelos nomes dos oito condenados que Mendonça, Valadolid, Corrêa, Valle,
Miguel, Nunes, Costa, Ribeiro, Mendes, Sá, Cunha, Oliveira e Henriques figuram entre
os “cristãos novos” judeus condenados à morte por judaísmo e evidenciam que a
presença de um desses nomes numa família pode indicar um passado judaico nas
gerações anteriores.
No entanto, noutro de seus
livros fartamente documentado:
“Os Cristãos Novos na Bahia, ”
(Editora Perspectiva, 1972) Anita Novinsky publica num apêndice de 9 páginas
uma lista que inclui dezenas de outros sobrenomes que incluímos aqui apenas
para que o leitor se dê por conta da plausibilidade da presente lista já que os
sobrenomes usados por judeus sefarditas é ainda muito mais vasto do que aqueles
citados em documentos de terra, anais da inquisição, atas de batismo ou
sepultamento em cemitérios paroquiais.
Os judeus se misturaram de tal
forma na sociedade luso-brasileira que como dizia um rabino, a grande pergunta
num país como o Brasil e em seus vizinhos sul americanos não é quem descende de
judeu, mas quem não descende.
Apesar disso ai vai nossa
lista publicada pela investigadora do passado judaico brasileiro Anita Novinsky
cujas obras recomendo efusivamente: Abrantes, Afonseca, Aguiar, Aguirre, Aires,
Albuquerque, Almeida, Alvarez, Antunes, Araújo Azevedo, Balão, Barbosa,
Batista, Bayão, Bitencor, Botelho, Bragança, Brandão, Bravo, Burgos, Brito,
Cação, Caldeira, Campos, Castro, Cordeira, Cardoso, Carvalho, Castanho, Chaves,
Cirne, Correa, Correia, Costa, Diamante, Dias, Dinis, Duarte, Evora, Faria,
Faya, Fernandes, Ferreira, Floriano, Fonseca, Fontes, Francisco, Franco,
Freire, Freitas, Gama, Garcia, Girão, Gois, Gonçalves, Gomes, Gusmão,
Henriques, Homem, Leão, Lemos, Lobão, Lopes, Machado, Manso, Marques, Martins,
Matos, Maya, Medeiros, Mendes, Menezes, Mentola, Mesa, Miplata, Miranda, Moniz,
Moraes, Morão, Moreno, Muacho, Navarro, Nunes, Oliveira, Pacheca, Pais, Paiva,
Pantaleão, Paredes, Pereira, Peres, Pessoa, Pimentel, Pinheira, Pinto, Pires,
Quaresma, Rego, Ribeira, Ribeiro, Rodrigues, Roseiro, Sabona, Sanches, Saraiva,
Sarzedo, Serra, Serrão, Silva, Simões, Soares, Teles, Teixeira, Thomas, Tinoco,
Ulhoa, Vasconcelos, Vaz, Veigas, Velho, Vicente, Velloso.
Claro que toda essa lista é só
o começo.
Se existe um país no mundo
onde imperam nomes usados comprovadamente por judeus, esse país é o Brasil.
Isso pode ser facilmente
constatável tomando-se os sobrenomes sefarditas mais conhecidos e
confrontando-a com uma lista telefônica de qualquer estado ou região do Brasil.
Alertamos para o fato de que
possuir um nome usado por judeus sefarditas ou por marranos (cristãos novos)
não significa automaticamente que haja um passado judaico na família, mas isso
é uma evidência que não pode ser descartada e que deve ser usada por aqueles
que amam a restauração.
A lista que inclui centenas de
nomes muito mais que comuns no Brasil deve ser vista como um instrumento que se
junta na pesquisa a sua ancestralidade a outros dados como costumes, traços
culturais, tradições e evidência de cripto-judaísmo conservadas no passado.
Só para ter uma ideia de
quantos luso-brasileiros são descendentes de Israel é bom que se saiba que em
1492, entre 120 e 150 mil judeus espanhóis expulsos pelos reis católicos foram
para Portugal e se juntaram aos mais de 100 mil judeus portugueses numa época
em que Portugal tinha 1 milhão de habitantes. Sob pressão da Espanha o Rei de
Portugal ordenou a conversão em massa dos judeus que não tendo para onde ir se
resignaram ao catolicismo. Eles passaram a ser os “cristãos novos”.
Convertidos
à força de um decreto eles passaram a viver o judaísmo escondido, que no Brasil
nem foi tão escondido assim, pelo menos até à chegada das visitações do
Tribunal do Santo Ofício que servia à mais abominável das práticas, o de caçar
bruxas, feiticeiros e hereges, mas sobretudo e principalmente judeus, os
“assassinos de deus”.
Edições Comunidade de Israel www.comunidadedeisrael.com.br
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