terça-feira, 9 de dezembro de 2014

46 - CONVERSA- Carlos Magno, « KAROLUS IMPERATOR AUGUSTUS » Parte I.

Busto de Carlos Magno (depois de 1349), Aachen Cathedral Treasury

Carlos Magno
Karl der Große, Carolus Magnus ou Karolus Magnus, Charlemagne.
Pater Europae,o Pai da Europa.
« KAROLUS IMPERATOR AUGUSTUS »
Charles, empereur auguste
Römischer Kaiser
Imperatur Romanorum
Rei da Aquitânia.
Rei dos Francos e dos Longobardos.
Subtítulo: o Inicio do Feudalismo.

Carlos, futuro Magno, faz a guerra pelos quatro cantos da Europa conhecida com a justificativa de que precisa levar o cristianismo aos pagãos, o Papa aprova, e ele vence.
Seus domínios vão:
A – O oeste:
As cotas do Oceano Atlântico (exceto a Bretanha).
B- Ao sul:
a)       Pelo rio Ebro - um dos maiores rios da Espanha e da Península Ibérica. Nasce em Fontibre, na Cordilheira Cantábrica (Cantábria), e percorre Miranda do Ebro, Logroño, Saragoça, Flix, Tortosa, Amposta e acaba num delta a desaguar no mar das Baleares (parte do mar Mediterrâneo), na província de Tarragona  em Espanha.
b)      Pelo rio Volturno, rio no centro-sul Itália;
C- A leste:
1) Pela Saxónia.
2) Pelo Rio Tisza - o segundo rio mais importante da Hungria e nasce na Ucrânia, toca a fronteira com a Eslováquia, e desagua no rio Danúbio.
3) Pelo rio Oder- rio da Europa central que nasce na República Checa (maciço da Boêmia), onde é chamado Vjodr. Corre no rumo geral de noroeste, atravessando a planície da Silésia (Polônia), onde recebe o nome de Odra, e a extensa planície germano-polonesa, já com o nome de Oder. Serve de fronteira entre a Alemanha e a Polônia. Após percorrer 885 km, atinge o mar Báltico-
4) Pelo sopé dos Cárpatos - grande sistema de montanhas da Europa, percorrendo 1500 km ao longo das fronteiras da República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e Ucrânia.
D- Ao norte:
I) Mar Báltico.
II) Mar do Norte.
III) rio Eider - o maior rio do estado federal alemão de Schleswig-Holstein, que faz fronteira com a Dinamarca.
IV) Canal da Mancha.
Atenção:
Nenhum politico da atualidade nem nos mais loucos de seus sonhos pode imaginar que a União Europeia (UE) é uma união económica e política de 28 Estados-membros independentes situados na Europa tenha hoje em dia tanto Poder quanto Carlos, Magno, teve em seu Império Europeu. Nenhum.
Mais, voltemos...
Diante de tanto poder o Sumo Pontífice, o Bispo de Roma, Soberano do “Patrimônio de São Pedro”, Sua Santidade o Papa Leão III, que foi Cardeal de Santa Suzanna... TREME.
Apesar de suas prerrogativas não queria entra em choque com seu “aliado”.
Sua Santidade conhecia os Homens e sabia que a vaidade e por via de consequência o orgulho eram pecados que a Humanidade custa a controlar, assim resolveu tornar Carlos o novo Imperador do Ocidente pensando que assim poderia ter alguma ascendência sobre o indomado franco.
Mais falemos um pouco de Leão III:
De origem humilde, era um funcionário Palácio de Latrão, que era o escritório Papal e residência oficial dos Papas, e por uma dessas coisas que só Deus sabe com a morte de Adriano I, no dia do sepultamento deste, em 26 de dezembro 795, foi eleito Papa, o 96 ° Papa da Igreja Católica, despertando a ira da aristocracia romana.
Leão III, hábil político, com rebelde a suas portas, na época que veneno era uso e costume, tratou de enviar as “Chaves de São Pedro” e a Bandeira de Roma para o Rei Carlos e através de seus emissários jurou vassalagem, e com isso reconhecia o Rei dos Francos e dos Lombardos como “General da Igreja e Juiz Supremo de Roma”.
Carlos enviou emissários a Roma com decretos que oficializava os deveres e os direitos dele e do Papa e com a advertência:
“Ao Rei competia o exercício do poder efetivo. Ao Papa só a autoridade espiritual. Defender pelas armas a Santa Igreja onde quer que fosse. Devastar os infiéis do Islão e os pagãos...Tudo em nome da Fé católica. A vós mui digno e Santo Padre cabe ajudar o sucesso de nossas armas com vossas orações. Siga as regras estabelecidas pelos Santos Padres vossos predecessores. Que de vossa boca só saia exortação para que vossa pessoa seja a luz que brilha diante aos homens.”
Leão III engoliu em seco, porque recebeu “uma grande parte do tesouro dos avaros que Carlos havia tomado”.
Um belo dia o Papa estava participando de uma procissão das Grandes Ladainhas de 23 de abril de 799, a cavalo, de Latrão para San Lorenzo in Lucina quando foi atacado por Pascale e Campolo e sua turma, parentes do Papa Adriano, que já o haviam acusado de ter amantes, de ser sodomita e outras coisitas sexuais a mais.
Foi despojado de suas vetes papais, espancado, ferido, pois “tentaram cortar sua língua e arrancar-lhe os olhos”, mas mesmo assim graças a seus subordinados e tremendo de medo conseguiu fugir e se abrigar no Mosteiro/Convento de Santo Erasmo (também conhecido como São Telmo) no monte Célio (em latim: mons Caelius) é uma das sete colinas de Roma, inserido no perímetro citadino ainda durante o reinado de Rômulo, primeiro Rei de Roma.
Uma outra versão revela que ele foi preso, levado para o Mosteiro/Convento de São Silvestre (San Silvestro em Capite), julgado e só depois foi levado preso para o Mosteiro/Convento de Santo Erasmo.
Mais o certo mesmo é que Leão III foi deposto pela a aristocracia romana e fugiu amparado por um exército de 2.000 de Vinigiso , Duque de Spoleto que o levou para sua Corte.
Carlos e seus exércitos estavam estacionados em Paderborn para uma reunião do Reichstag e de um Sínodo Episcopal tendo como finalidade tratar da cristianização dos saxões, e recebeu Leão III, Spoleto o havia enviado ao Rei, com todas as honras, fato cantado na Karolus magnus et Leo papa, às vezes chamado de Paderborn Épico ou Aachen Epic.
Sabendo das acusações que pairavam sobre Leão III por parte dos romanos foi precavido e afirmou que qualquer decisão sobre o assunto deveria ser tomada em Roma e mandou sob escolta o Papa deposto para a Cidade Eterna. Fez uma espécie de ‘apelo para Roma’ de São Paulo.
Com eles ia um enviado especial, pessoa de confiança de Carlos, para conduzir um inquérito sobre as causas verdadeiras que levaram a aristocracia romana a se rebelar com o Papa Leão III.
Em agosto de 800 Carlos toma o rumo de Roma para na Cidade Eterna passar o Natal.
No dia 1 de dezembro Carlos reuniu solenemente um Sínodo composto da Alta Hierarquia da Igreja, dos representantes da Aristocracia Romana e as autoridades Civis da Cidade
Foi uma falação danada, mas Leão jurou sobre os Evangelhos que as acusações eram falsas (purgatio per sacramentum), que tudo não passava de mentiras por parte dos aristocratas, pois ele não era um deles, patatí-patatá, e Carlos que sabiamente não queria ver sua autoridade de Defensor da Fé arranhada aceitou a palavra do Soberano Pontífice deposto.
Leão se tornou de foram inconteste Sua Santidade o Papa Leão III, Bispo de Roma e Sumo Pontífice de Toda a Cristandade.
Natal de 800.
Vou tentar descrever o máximo possível o episódio que aconteceu nessa data:
Carlos é um gigante louro demais de 2 metros de altura.
Não veste nenhuma insígnia que indique sua realeza nem tão pouco os apetrechos de guerreiro.
Veste túnica, manto e calça de romano, afinal ele é um Patrício Romano em Roma. 
O Gigante entra em meio de duas filas de seus nobres e guerreiros, também despojados de suas vestes de batalha e sinais que indique seus títulos e posições.
Em toda a extensão das laterais da nave bandeiras são expostas, as dos seus aliados e as de seus inimigos vencidos.
No Altar-Mor uma grande Cruz cercada de mil círios, tendo a frente SS o Papa, coroado, e os Altos Dignitários da Igreja vestidos com os paramentos luxuosos.
Sua Santidade desce do Altar e beija fraternalmente Carlos.
Em quanto isso o Alto Clero se retira pelo lado do altar.
Leão conduz pela mão Carlos para que o Rei ajoelhe e faça suas orações.
Quando Carlos, filho de Pepino e de Berta, está dando sinais que vai terminar suas orações o Papa veem por traz com uma Coroa de Ouro, cravejada com as mais belas pedras já vistas no Ocidente e cinge a fronte do Soberano.
Carlos olha para os seus nobres mostrando irritação, mas a resposta foi um grito em uníssimo em Latim:
“A Carlos Augusto, coroado por Deus, grande e pacifico Imperador, vida e vitória.”
É o clímax das celebrações natalinas em Roma no oitocentéssimo ano da graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Em 25 de dezembro de 800 Carlos dos Francos torna-se, então, o primeiro Imperador do Ocidente depois da Queda de Roma, três séculos antes.
Releitura:
Está mais do que obvio que durante a acolhida a Leão, Carlos exigiu a Coroa Imperial para recoloca-lo no Trono de São Pedro, a prova disso é que o Tribunal Especial conduzido pelo Enviado Especial era composto de Arcebispos, Bispos, Condes totalmente fieis ao novo Imperador.
Carlos tinha necessidade de afirmar sua superioridade monárquica, não só devido à extensão de seus domínios, mas, também, Soberano com tantos domínios e poder como ele só havia no então mundo conhecido o Basileus, o Imperador do Oriente em Constantinopla.
Ele tinha que ser mais do que um Rei, mais do que “Karolus Gratia Dei Rex Francorum et Longobardum ac Patritius Romanorum, e a ocasião para receber o Diadema Imperial havia chegado.
O que enfureceu a Carlos foi Leão ter mudado o “protocolo” combinado, ou seja, quando Carlos estivesse entre os seus homens de guerra, depois de ter rezado, o Papa iria até ele e lhe entregaria o Diadema Imperial em suas mãos e ele o colocaria na cabeça, numa demonstração de que o Império não tinha sido conquistado só por ele, mas, também, por seus guerreiros.
Era um reconhecimento público feito pelo novo Imperador do valor de seus guerreiros, era a sua manifestação de lealdade aos que lhes fora leal.
Carlos era um político muito vaidoso para aceitar que fosse diferente.
Era obvio que Carlos queria se auto coroar afinal foi ele que com suas forças conquistou o Império Carolíngio nada recebendo do Papa, muito pelo contrário era ele que sustentava a Igreja fazendo doações de domínios e de muito ouro como acabara de acontecer com o tesouro dos avaros dado ao próprio Leão quando de sua coroação como Pontífice.
Sabia Carlos que com esse gesto Leão tentava marcar a superioridade do Poder Espiritual sobre o Poder Temporal, a perpetua reivindicação dos Papas.
Tinha razão de ficar furioso, mas o que estava feito estava feito.
Uma coisa é certa Leão III já não era pessoa de sua confiança, pois feriu o seu orgulho.
CARLOS ADMINISTRADOR:
O Rei abolira o cargo de Mordomo do Paço.
Comes queria dizer companheiro do Rei palavra essa que deu origem a palavra Condes como veremos mais adiante.
Os Condes eram responsáveis por um Condado.
Ao Conde era dado o direito de nomear seu substituto os Viscondes.
Outras peças importantes na administração eram os Bispos que recebiam do Imperador e Rei suas Dioceses nas terras pertencentes ao Império e as administravam da mesma maneira que os Condes.
Nas fronteiras Carlos criou as Marcas que eram chefiadas por um Conde, que foi elevado a condição de Margrave e dessa palavra é que saiu o Marquês, título tão ao gosto dos futuros Reis de França.
Os Duques, nobres que tinham obrigações de rotina, mas nas Guerras chefiavam vários Condes e seus batalhões.
Para controle desses o Imperador e Rei tinha um corpo de funcionários especiais que viajam por todo o Império, os missi dominici.
A aparição ao longe da comitiva desses enviados do Imperador e Rei conta a lenda que causava uma verdadeira revolução.
Carlos legislou através de Capitulares, ou seja, decretos que não precisavam de aprovação de nenhuma Assembleia, principalmente do Reichstag.
Eram chamados de Capitulares porque eram organizados como capítulos de um “Compendio de Ordenanças Regias”.
De todos os seus súditos, civis, militares ou eclesiásticos, o Imperador e Rei exigia juramento de fidelidade denominado’ Sacramentum fidelis’.
A desobediência era punida com a morte.
Como podemos perceber esse juramento transcende o Poder Temporal, pois a Igreja sustentava que desobedecer ao Imperador e Rei e aos Reais era sacrilégio.
Carlos distribuiu terras entre os seus amigos que assim se tornaram seus vassalos.
E o que é um vassalo?
Vassalo é um indivíduo ligado a um Senhor, o Suserano, por um juramento de Fé e de homenagem.
Que pagava um tributo a esse mesmo Senhor e que em caso de guerra fornecia homens armados para o combate.
O primeiro vassalo recebia as terras de seu senhor e essas posses poderiam ser vitalícias ou não.
Na segunda metade do século IX essas terras passaram a ser hereditárias.
Assim o que era um problema para alguns Condes que subdividiam suas terras com seus melhores guerreiros para baratear o custo de suas tropas melhorou bastante.
A lealdade deles não era sagrada como deles para Carlos.
Esse novo sistema ou ciclo histórico, é conhecido como Feudalismo e as terras desses Senhores passaram a ser conhecidas como Feudos. 
Um Imperador podia ser Suserano, assim como um Rei, assim como um Príncipe, assim como um Príncipe – Soberano, assim como um Grão-Duque, Assim como um Duque Soberano, assim como um Duque, assim como um Marques, assim como um Conde, assim como um Visconde, assim como um Barão, assim como um Cavaleiro, mas vavassalado jamais.
Um vavassalado pode ser um vassalo, um Cavaleiro pode ser um vassalo, um Barão pode ser um vassalo, um Visconde pode ser um vassalo, um Conde pode ser um vassalo, um Marques pode ser um vassalo, um Duque pode ser um vassalo, um Duque Soberano pode ser um vassalo, um Grão-Duque pode ser um vassalo, um Príncipe-Soberano pode ser um vassalo, um Príncipe pode ser um vassalo, um Rei pode ser um vassalo, mas um Imperador jamais seria ou é um vassalo.
O Sumo Pontífice, o Papa, o Bispo de Roma, vassalo jamais.
 Suserano sim de todos os Bispos espalhados pelo mundo.
Carlos, agora cognominado Magno, que para quem não sabe é sinônimo de Grande, era analfabeto até a idade adulta, aprendeu sua língua, latim e grego já grandinho
Queria legar ao mundo um Império letrado, para isso tomou uma série de iniciativas que se convencionou chamar de “Renascimento Carolíngio”.
Renascimento de que?
Aumentou as atividades artísticas e intelectuais.
Deste movimento surgiu o estilo arquitetônico chamado “românico”.
Os membros do Clero, mesmo com baixo nível de escolaridade, os semianalfabetos tão comuns no Brasil, foram mobilizados para alfabetizar seus paroquianos.
Os membros do Clero para receber promoções tinham que prestar exames.
Convocou um lombardo de nome Paulo Diácono e o inglês Alcuíno para elaborar um plano escolar.
Contratou Eginardo, nascido em Maingau, Vale do Meno, no ano de 770 e faleceu em Seligenstadt no ano de 840, primeiro como secretário depois o incumbiu de escrever sua vida, título “A Vida de Carlos”.
Essa obra é preciosíssima, pois descreve a época de Carlos. Alguns historiadores afirmam que ela é responsável por muitas das Lendas que circulam sobre o Soberano.
Eginardo foi membro da “Escola Palatina “que funcionava junto a Corte de Aqüísgrana ou Aachen, noroeste da atual Alemanha, e a qual Carlos frequentava quando podia.
Carlos nunca teve barba, bigodes sim.
Gostava de “gente” por isso sua comitiva era sempre enorme.
Era glutão.
Bebia pouco, pois detestava os bêbados.
Gostava de agua tanto que mandou construir uma enorme piscina no Palácio, onde podiam nadar os reais os amigos e os membros da guarda pessoal.
Era mulherengo.
Casou com Imiltrude, Ermengarda, Ildegarda, Falstrada e Lutgarda. Teve ao menos 20 filhos reconhecidos, portanto membros da nobreza de sangue. Das filhas tinha ciúme. Teve netos e sobrinhos e era carinhoso com eles.
Conta a lenda que consciente do proveito que tirou da Igreja para aumentar o Reino que Pepino lhe deixou e que tomou dos sobrinhos em 779 decretou que todos os Senhores e Vassalos tinham que restituir 10% de suas rendas a Santa Madre Igreja, ou seja, cobrou o dizimo.
As penalidades para que não cumprisse tal decreto eram mais do que severa, para começar perdiam as terras e daí por diante.
Devemos nos lembrar de que Carlos era cruel, muito cruel.
Carlos, filho de Pepino e de Berta, após o Natal de 813 a. D. foi atacado por uma virose.
Em janeiro de 814 uma febre alta obrigou o a ficar de cama.
Teimoso declara que através de jejuns e orações e alguns goles de agua dominaria a doença.
A febre o queima.
28 de janeiro de 814, às 9 horas d´amanhã entrega a vida ao Senhor aquém serviu pela Fé e pela espada.
Os Reais e os cortesãos batiam cabeças porque ele não havia dado ordem de como queria ser enterrado.
Finalmente resolvem sepulta-lo na Catedral de Aqüisgrana, por ele mandada ser construída.
Em sua tumba está escrito:
“Nesta tumba repousa o corpo de Carlos, grande e ortodoxo
Imperador, que aumentou nobremente o reino dos
Francos e o governou com felicidade durante 47 anos.
Morreu com 71 anos, em 814, Ano do Senhor,
sétima indicção, o quinto das calendas de fevereiro.”

Sucede-lhe seu filho Luiz, o Piedoso, Também conhecido como o Bonachão, Rei da Aquitânia, mas isso é outra ‘conversa’.
São Leão III coroa à socapa Carlos Magno e instaura o Sacro Império Romano 

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