No antigo Recife havia um
grupo de negros conhecidos com SEMBA, e eram bons dançarinos. Não formavam uma
nação, nem tão pouco uma grande tribo, eram parte dos bantos para lá levados.
Dizem que as negras sembas eram
fogosas, prá la de sexuais, pela maneira como davam as suas ‘ umbigadas’
enquanto dançavam a famosa “ A masemba”- dança erótica de origem angolana ”.
“ Masemba significa umbigadas,
portanto o plural de semba /umbigada, dança esta que deu origem ao " lundu
ou lundum”, de "kalundu", um ser sobrenatural que dirige os destinos
do homem”.
Apesar do lundum ser muito
apreciado pelo senhor Dom Pedro de Alcântara, para mim “ O Pedroca”, que
gostava de viver bem a vida, e foi nosso primeiro Imperador, para diferenciar do
seu filho, também, Pedro de Alcântara, que me parece um chato de galocha, ele –
o lundum- era considerado, desde os tempos
de Dom Manuel, o venturoso, como “contrário aos bons costumes”, e assim
continuava , pois tanto a Corte vinda de Lisboa, quanto os habitantes , nativos
ou não, que aqui estavam nos tempos dos Vice-Reis eram ‘tacanhos pra chuchu’.
Segundo André Diniz,
pesquisador de música popular brasileira, em seu Almanaque do Samba – A
história do Samba, o que ouvir, o que ler, onde curtir – Jorge Zahar Editor.
Rio de Janeiro, 2006, “ Em terras brasileiras, a dança do lundu foi cultivada
por negros, mestiços e brancos e, durante o século XIX, o lundu virou
lundu-canção, sendo apreciado em circos, casas de chope e salões do Império”.
“ O lundum saiu de evidência
no início do século XX, mas deixou seu legado, principalmente no que tange ao
ritmo sincopado, no maxixe”.
“Pelo lundum ter a base
rítmica africana, uma certa malemolência e seu aspecto lascivo, evidenciado
pela umbigada, pelos rebolados e por outros gestos que imitam, é que ele é considerado
um herdeiro da Masemba”.
Mais, o lundum foi levado do chamado
“ mundo rural”, do ambiente mais periférico e ruralista, para o salão, num
baile de carnaval na cidade do Rio de Janeiro, por um mulato chamado Maxixe,
que o dançava num ritmo diferenciado.
No lundum a turma bate palmas,
enquanto um casal dança.
No maxixe todo mundo dança ao
mesmo tempo.
Daí ser considerada a primeira
dança de salão realmente brasileira.
Ora, o local onde se mais
dançava o maxixe era na Cidade Nova, bairro do Rio de Janeiro, local de negros,
de ex- escravos, de seus descendentes e familiares.
Contudo, o maxixe – como a masemba
e o lundum - tinha um forte apelo sensual
gerando preconceitos, e por isso considerado indecente.
Chiquinha Gonzaga, uma mulata,
filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército Imperial Brasileiro e de
Rosa Maria Neves de Lima, uma negra de origem humilde, a primeira mulher brasileira
a reger uma orquestra, “ que desde cedo, frequentava rodas de lundu, umbigada e
outros ritmos oriundos da África, pois nesses encontros buscava sua
identificação musical com os ritmos populares que vinham das rodas dos escravos”.
“Por volta de 1900, Chiquinha Gonzaga
conheceu a irreverente artista Nair de Tefé, a primeira caricaturista mulher do
mundo, uma moça boêmia, embora de família nobre, que se casou com o Presidente
da República, Marechal Hermes da Fonseca”.
Nair de Tefé convidou Chiquinha
Gonzaga para os saraus no Palácio do Catete, e a compositora ousou, pois durante
um deles foi lançado o “ Corta-Jaca”, um maxixe composto por ela, “sendo
acompanhada no violão pela própria Primeira-dama”.
Eu sou fã de Dona Francisca
Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, que nasceu no meu
querido Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 e faleceu quando começava o
Carnaval no dia 28 de fevereiro de 1935, uma mulher avant-garde como minha bisavó,
Dona Minervina da Silva Alves, recifense, que de tão parecidas se diria que
eram irmãs.
Letra do Corta-Jaca:
Neste mundo de
misérias
Quem impera
É quem é mais
folgazão
É quem sabe cortar
jaca
Nos requebros
De suprema,
perfeição, perfeição
Ai, ai, como é bom
dançar, ai!
Corta-jaca assim,
assim, assim
Mexe com o pé!
Ai, ai, tem
feitiço tem, ai!
Corta meu benzinho
assim, assim!
Esta dança é
buliçosa
Tão dengosa
Que todos querem
dançar
Não há ricas
baronesas
Nem marquesas
Que não saibam
requebrar, requebrar
Este passo tem
feitiço
Tal ouriço
Faz qualquer homem
coió
Não há velho
carrancudo
Nem sisudo
Que não caia em
trololó, trololó
Quem me vir assim
alegre
No Flamengo
Por certo se há de
render
Não resiste com
certeza
Com certeza
Este jeito de
mexer
Um flamengo tão
gostoso
Tão ruidoso
Vale bem
meia-pataca
Dizem todos que na
ponta
Está na ponta
Nossa dança
corta-jaca, corta-jaca!
Reconhecido, mas considerado
escandaloso, pois “ foram feitas críticas ao governo e retumbantes comentários
sobre os "escândalos" no palácio, pela promoção e divulgação de
músicas cujas origens estavam nas danças vulgares, segundo a concepção da elite
social aristocrática. Levar para o Palácio do Governo a música popular
brasileira foi considerado, na época, uma quebra de protocolo, causando
polêmica nas altas esferas da sociedade e entre políticos”, o maxixe continuou
sua trajetória, até que nasceu o SAMBA.
Continua.
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