terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A masemba, virou lundum, que virou maxixe, donde nasceu o SAMBA - 2




Continuação:
A Voz do Morro:   
Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem levo a alegria
Para milhões de corações brasileiros
Salve o samba, queremos samba
Quem está pedindo é a voz do povo de um país
Salve o samba, queremos samba
Essa melodia de um Brasil feliz
Essa maravilha cima é de Zé Kéti, nome artístico de José Flores de Jesus, nascido no Rio de Janeiro, no Bairro de Inhaúma, em 6 de outubro de 192.
Na mesma cidade morreu de falência múltipla dos órgãos aos 78 anos em 14 de novembro de 1999.
A Voz do Morro, também, foi o nome de um conjunto formado na década de 1960, por Zé Kéti, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Nelson Sargento, Anescarzinho do Salgueiro, Jair do Cavaquinho, Zé Cruz e Oscar Bigode.

Esse primor narra suscintamente a História do Samba que teve início na Cidade Nova.
O que era a Cidade Nova?
Simplificando as informações:
“ O nome "Cidade Nova" tem registros que remontam ao período do reinado de D. João VI. Até o início do século XIX, a região era um alagadiço que servia de rota de passagem entre o Centro e as zonas rurais da Tijuca e São Cristóvão. Com os aterros feitos com a intenção de melhorar esta travessia, surgiu o projeto de impulsionar o crescimento da cidade para a área, vindo daí o nome”.
Ou
Em tempos passados, a região ou bairro da Cidade Nova era conhecida como Mangue, por ter sido um alagadiço pantanoso com vegetação de manguezal. A região também ficou conhecida como "Aterrado", devido à um caminho feito sobre aterro, ainda no tempo de Dom João VI para ligar o centro da cidade ao Paço Real de São Cristóvão, atual Museu da Quinta da Boa Vista. A região da atual Cidade é área compreendida entre os antigos Manguezais da Gamboa Grande indo até o extinto Saco de São Diogo ou Saco de São Cristóvão. Para se situar, o Saco de São Cristóvão era um grande braço de mar, cujas aguas chegavam ante o atual encontro das Avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas.
Nesta região, no início do Século 19, uma parte da mesma foi aterrada, dando surgimento ao chamado "Campo de Marte", utilizado para manobras militares e exercícios de tiros de tropas da Coroa.
A região ficou conhecida como Aterrado no Século 19 devido ao "Caminho do Aterrado ou Caminho das Lanternas", construído no tempo de D. João VI, para trafego de carruagens da família Real ruma ao Palácio de São Cristóvão.
Este caminho também aberto sobre aterro, viria a ser a Rua Senador Euzébio (depois Rua São Pedro da Cidade Nova), que passava pela "Ponte dos Marinheiros", ponte esta que existia onde hoje existe um cruzamento de grandes viadutos na junção das Avenidas Presidentes Vargas e Francisco Bicalho.
Veja algumas cenas que mostram a evolução urbana e os aterros das áreas adjacentes ao antigo Saco de São Cristóvão e Manguezal de São Diogo. Sobre o manguezal hoje situa-se a Cidade Nova.
Na metade do Século 19, a área sofreu grande impulso, quando o Barão de Mauá construiu e instalou na Senador Eusébio (depois Rua São Pedro da Cidade Nova), em 1851, o antigo Gasômetro ou Fábrica de Gás. O projeto do gasômetro era de um engenheiro inglês chamado Guilherme Bragge.
Em 1857 o mesmo Barão de Mauá, também construiu sob regime de administração o Canal do Mangue, drenando e saneando as águas que se espalhavam pelo local.
Este canal foi construído substituindo uma vala que existia no local, entre as Ruas Visconde de Itaúna e Senador Eusébio.
A Rua São Pedro da Cidade Nova (antiga Senador Eusébio) deixou de existir com a abertura da Avenida Presidente Vargas na década de 1940, Século 20, quando esta rua e a Visconde de Itabuna, uma outra rua paralela que ficava do outro lado do Canal do Mangue se fundiram e passaram a se chamar Av. Presidente Vargas.
Entretanto, a calçada da Av. Presidente Vargas do lado do Gasômetro, seria a antiga calçada da extinta Senador Eusébio ou Rua São Pedro da Cidade Nova.
Até o ano de 1895, ainda existiam pântanos na área onde hoje existe a Estação do Metrô do Estácio, área em frente ao Centro de Convenções Sul América, Prédios Prefeitura e indo até o edifício do Tele Porto na Rua Visconde de Duprat. Foi nesta época que estas áreas foram aterradas com terras que vieram do desmonte do Morro do Senado. Em função destes aterros, surgiram as ruas Pinto de Azevedo, Pereira Franco, Machado Coelho (antiga Rua dos Bondes), Visconde de Duprat entre outras.
Na década de 1940 inúmeras demolições ocorreram na área para a abertura da grandiosa e ampla Av. Presidente Vargas. Se veio o chamado "progresso" para a cidade, a avenida transformou a Cidade Nova em um bairro de passagem que entrou em total decadência passando a ser ocupado por cortiços e zonas baixo meretrício”.

Outro:
“ A Cidade Nova passou a ser caracteristicamente um bairro proletário, de pequenas casas operárias. Nele, localizava-se a antiga praça 11 de Julho, que seria destruída com as obras de abertura da Avenida Presidente Vargas. Entretanto, parte da Cidade Nova manteve a denominação de Praça Onze, em referência ao antigo logradouro, apesar disso, curiosamente, a Praça Onze não faz parte do bairro da Cidade Nova, fazendo parte do bairro do Centro, pois fica depois do Viaduto 31 de Março, divisa oficial dos dois bairros”.

“O "Largo do Rocio Pequeno" tornou-se a Praça 11 de junho, data da Batalha do Riachuelo, o Combate Naval do Riachuelo culminou com a derrota dos paraguaios, representando o fim da primeira fase da guerra, onde se distinguiu Francisco Manuel Barroso da Silva, Barão do Amazonas - em homenagem à nau capitânia que comandava na batalha do Riachuelo-  o Almirante Barroso,  era delimitada pelas ruas de Santana (a leste), Marquês de Pombal (a oeste), Senador Euzébio (ao norte) e Visconde de Itaúna (ao sul)”.
“ As etnias mais populares no entorno da Praça Onze eram os negros (na maioria oriundos da Bahia), seguidos pelos judeus de várias procedências, tanto que por ali morou e trabalhou Adolpho Bloch (Avram Yossievitch Bloch) junto com a família, que em 1923 comprou uma pequena impressora manual e começou rodando folhas numeradas para o ilegal Jogo do Bicho”.
“ Com a Abolição, os libertos se instalaram nas precárias "casas de cômodos" tendo como centro público das atividades a Praça 11 de Junho”.
Foi por causa da superlotação das casas ao redor da Praça 11, os soldados que participaram da Guerra de Canudos subiram as encostas do Morro da Favela, e lá construíram seus casebres, e de onde surgiu a terminologia “ Favela”.
Portanto, a Praça 11 era “ o reduto por excelência dos negros cariocas”.

E FOI ONDE NASCEU O SAMBA.



Na casa da Mãe de Santo e quituteira baiana dona Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata.
Tia Ciata, filha de Oxum, nasceu na terra dos Velosos (Maria Betânia e Caetano), ou seja, em Santo Amaro da Purificação em 1854, sendo iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô, nome civil Rodolfo Martins de Andrade, um babalawo africano.
Babalawo (em yoruba: bàbáláwo pronúncia babalauo) é o nome dado aos sacerdotes exclusivos de Orunmilá-Ifá do Culto de Ifá na religião yoruba, das culturas Jeje e Nagô. Estes não necessariamente entram em transe, sua função principal é a iniciação de outros babalawos, a preservação do segredo e transmissão do conhecimento do Culto de Ifá para os iniciados”.

Tia Ciata mudou-se para o Rio de Janeiro com 22 anos, em 1876, por causa da perseguição e fortíssima repressão policial a sua crença, e com outras Irmãs de Santo foi morar na “ região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores”.
Embuchada por Noberto da Rocha Guimarães um companheiro que não deu certo, tiveram uma filha de nome Isabel.
Para sustentar a Isabel, nome da Princesa que assinou a Lei Aurea, a nobre Tia Ciata, vestida com as vestes tradicionais das baianas, foi trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, local onde seu “tabuleiro ficou famoso por ser farto, repleto de quitutes, de bolos e manjares, tanto que era frequentado por transeuntes de todas as classes sociais”.
No Rio se tornou “ A Mãe Pequena, a Iyakekerê, a segunda pessoa mais importante em um terreiro de candomblé, que na ausência da ialorixá ou do babalorixá, assume o comando do terreiro da Casa do babalorixá João Alabá, a primeira casa de candomblé no Distrito Federal, um terreiro de Candomblé na rua Barão de São Félix, na Gamboa”.
Boa pessoa, encontrou em João Batista da Silva, um negro bem-sucedido, o companheiro de sua vida, tanto que tiveram 14 filhos, e com quem foi morar na Praça 11.
Ali conquistou uma boa reputação, tanto que ela se conta essa História:   
“ Normalmente, a polícia perseguia os sambistas, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:
"Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:
"Quem precisa de caridade que venha cá."
Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos.
O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.
Fim da História.
“ Em 1910, morreu o respeitado João Batista da Silva, mas Tia Ciata continuou a mesma recebendo em sua casa, organizando os famosos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes”. “Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse”.
Mestra no Samba do partido-alto, portanto uma das conhecedoras dos segredos do samba-dança mais antigo, tanto que foi reconhecida como grande ‘partideira’.
Em sua casa na Praça 11 se reuniram os Três Grandes, Donga, Sinhô e João da Baiana, e com isso sua casa “é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro”.
A “ Deixa Falar” é considerada a primeira escola de samba do Brasil, nascida no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, que  para muitos era só um Bloco de Carnaval, depois dele ou dela vieram O Conjunto Oswaldo Cruz, do Bairro Osvaldo Cruz, hoje o mui querido Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, e o Bloco Estação Primeira, que hoje é a tradicional Estação Primeira de Mangueira ( Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira), e todos eles “nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, consideravam que era "obrigatório" passar diante da Casa de Tia Ciata, onde foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida, na voz do cantor Bahiano, nascido também em Santo Amaro da Purificação.”
“Com 70 anos completos, Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, que no seu atestado de óbito, está como Hilária Pereira de Almeida, e numa petição para sócio do Clube Municipal encaminhada por seu filho João Paulo em 1949, este escreve o nome da mãe como Hilária Pereira Ernesto da Silva. Dúvidas documentais sem maior importância, morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata”.
“Tia Ciata era uma mulher muito respeitada”.


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