quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

86- CONVERSA- Controvérsia da Investidura – Final

Henrique IV 
Sacro Imperador Romano
Rei da Alemanha
(Formalmente Rei dos Romanos)
Rei da Itália
Rei da Borgonha e do Arles
Duque da Baviera.

Controvérsia da Investidura – Final

Complexo de inferioridade

Um complexo de inferioridade, nos campos da psicologia e da psicanálise, é um sentimento de que se é inferior a outrem, de alguma forma. Tal sentimento pode emergir de uma inferioridade imaginada por parte da pessoa afligida. É frequentemente inconsciente, e pensa-se que leva os indivíduos atingidos à supercompensação, o que resulta em realizações espetaculares, comportamento antissocial, ou ambos.
Os trabalhos pioneiros neste campo foram realizados por Alfred Adler (1917), que usou o exemplo do complexo de Napoleão para ilustrar sua teoria. Alguns sociólogos propuseram que um complexo de inferioridade pode também existir num nível mais amplo, afetando culturas inteiras. Esta teoria controvertida, é conhecida como inferioridade cultural.
A psicologia adleriana clássica faz uma distinção entre os sentimentos de inferioridade primário e secundário. Diz-se que um sentimento de inferioridade primário está enraizado na experiência original de fraqueza, desamparo e dependência experimentadas por uma criança pequena. Ela pode ser intensificada por comparações com outros irmãos e adultos. Um sentimento de inferioridade secundário relaciona-se às experiências de um adulto em atingir um objetivo final inconsciente, fictício, de segurança e sucesso subjetivos para compensar-se por sentimentos de inferioridade.
Causas:
1-      Por nascimento – todo ser humano nasce com sentimentos de inferioridade porque quando de seu nascimento, é dependente do que para ele são super-humanos ao seu redor;
2-      Atitudes dos pais – 1-comentários negativos e avaliações de comportamento que enfatizem erros e lapsos determinam a atitudes de crianças até os seis anos de idade; 2-comparação que os pais fazem dos seus filhos com outras pessoas, geralmente, enfatizando que seus filhos são errados, enquanto que os outros são certos em determinada coisa;
3-      Defeitos físicos – tais como ser manco, características faciais desproporcionais, defeitos da fala e visão defeituosa causam reações emocionais e se conectam a experiências desagradáveis anteriores;
4-      Limitações mentais – provoca sentimentos de inferioridade quando comparações desfavoráveis são feitas com as realizações superiores de outrem, e quando performance satisfatória é esperada, mesmo quando as instruções não possam ser compreendidas;
5-      Preconceitos e desvantagens sociais – família, raça alegada, sexo, orientação sexual, status econômico e religião.
Lancei mão da enciclopédia mais simples que hoje existe, a Wikipédia, para descrever o Complexo de Inferioridade e com que finalidade?
Porque acredito que Hildebrando, que foi Papa sob o nome de Gregório VII, sofria de um terrível Complexo de Inferioridade causado por ter sofrido “preconceitos e desvantagens sociais”, já que sua família era humilde, sua raça não fazia parte da Realeza, nem tão pouco da Nobreza, portanto era baixíssimo o status econômico dos seus a ponto dele ter que estudar de favor em um convento de Roma.
Sua agressão aos Soberanos, a Nobreza, de sua época é prova do que digo.
Se pegou a Igreja, pois viu nela a única forma de subir na vida, de melhorar de vida, para ter vantagens na vida.
Defendeu o Papado para tirar proveito e nada mais.
Como todo bom arrivista se pegou como pode aos poderosos de ocasião para deles tirar a máxima vantagem pessoal possível, o caso da Condessa Matilde de Canossa e do Papa Gregório VI, aquém acompanhou ao exilio na Corte de Henrique III na Alemanha.
Como obteve sucesso humilhando ao Imperador Henrique IV, do Sacro Império, um nobre de linhagem comprovada, ensoberbeceu-se e acabou muito mal, como veremos.
Hildebrando não é uma pessoa histórica de quem eu gosto, mas não mesmo, apesar de ser considerado um dos Papas mais influentes da História.
Vamos aos fatos:
Hildebrando, nascido Ildebrando Aldobrandeschi di Sovana, o di Sovana não é sinal de nobreza, mas sim porque ele nasceu na Cidade de Sovana, na comuna de Sorano, província de Grosseto, na Toscana, na bellissima Italia.
De uma família de origem modesta, filho de um ferreiro, como era muito inteligente, um familiar, monge do Mosteiro de Santa Maria, no Monte Aventino, o trouxe a Roma para estudar.
Uns historiadores afirmam que o parente, um tio, era o Abade do Mosteiro, o que eu não acredito, pois a sua família era de origem humilde, e esses cargos eram entregues nas mãos dos familiares dos poderosos, principalmente em Roma onde a nobreza local mandava e desmandava, até no Papa.
Entre seus professores estava Giovanni dei Graziani, ou João Graciano, Arcipreste Basílica de San Giovanni a Porta Latina, futuro Papa Gregório VI, que muito influenciou o jovem toscano. 
Papa Gregório VI nomeou Hildebrando seu "Capellanus" ou capelão, e juntos tentaram realizar uma ampla reforma civil em Roma e religiosa no Clero, através de cartas e conselhos pastorais, e encontraram fortes residências tanto da Nobreza Romana, quanto dos Homens da Cúria, isso sem falar dos membros do Clero espalhados pela Europa, muitos deles influenciados por seus Soberanos.
Com isso, e até porque Hidelbrando, um plebeu, era a ‘eminência parda’ de Gregório VI e a cada dia que passava ganhava mais força, as facções de seus rivais, que eram fortes, que estavam a mais tempo no Poder “In Ecclesia et in urbe”, se assanharam e a confusão só aumentou.
Giovanni dei Graziani, ou João Graciano, ou Papa Gregório VI, havia comprado com dinheiro o Papado, ou seja, praticou Simonia, da seguinte maneira:
Giovanni dei Graziani era padrinho de Benedetto IX, nascido Teofilatto III dei Conti di Tuscolo, Bento IX, da poderosa família romana dos Condes de Tusculum, ainda adolescente, foi feito Papa.
Não teve um pontificado, mas sim três, a saber:
Foi o 145º Papa da Igreja Católica de 1033 a 1045, em seguida, uma segunda vez em 1045 (147º) e um terceiro em dois anos em 1047 - a 1048.
Pode?
Pode.
Outras fontes assim descrevem esse vai e vem assim:
1-      O primeiro com duração de sua eleição para a sua expulsão em favor de Sylvester III (outubro 1032 - setembro 1044);
2-      A segunda, de seu retorno ao seu vender o papado para Gregory VI (abril - maio 1045);
O terceiro de seu retorno após a morte de Clemente II ao advento de Dâmaso II (novembro 1047 - julho 1048).
Alguns afirmam que ele era homossexual e organizava orgias no Palácio de Latrão, outros de que era culpado por “muitos adultérios e assassinatos infames”, por enfim, alguns outros que ele resolveu casar e buscou auxilio junto ao seu padrinho, Giovanni dei Graziani, ou João Graciano, Arcipreste Basílica de San Giovanni a Porta Latina.
Graziani sugeriu que ele abdica-se do Trono e ele aceitou o conselho desde que o ‘padrinho’ pagasse por ele, o Trono.
E foi por isso que o bicho pegou.
Insatisfeitos com a política de Gregório Vi e de Hildebrando, os da Cúria convocaram um Concílio, conhecido como o Concílio de Sutri ou Sínodo dos Sutri, “onde Gregório confessou que ele tinha "de boa fé e simplicidade" comprado o Papado de Bento IX em 1045” (Boa-fé? Sei!!! Duvido. A Simonia já estava corroendo as entranhas da Igreja) e abdicou do pontificado, em 20 de Dezembro de 1046, com as seguintes palavras:
"Io, Gregorio, vescovo, servo dei servi di Dio, sentenzio che debbo essere deposto dal pontificato di Santa Romana Chiesa, per l'enorme errore che attraverso l'impurità simoniaca ha condizionato e viziato la mia elezione".
T.L.: “Eu, Gregório, servo dos servos de Deus, sentencio que devo ser deposto do pontificado da Santa Igreja Romana, pelo enorme erro [que cometi, pois foi] através da impureza da simonia que condicionou e viciou minha eleição”.
O Papado foi declarado vago.
E assim, a dupla Graziani – Hildebrando marcharam para Colônia, Alemanha, sob a proteção do Imperador Sacro, onde o ex- papa morreu um ano depois de ser deposto, isso é Maio de 1047.
Hildebrando, sem lenço e sem documento para voltar a Roma, foi para o Mosteiro de Cluny.
Mais, voltou.
O Papa Leão IX - Bruno von Egisheim-Dagsburg – o chamou e o nomeou subdiácono da Sé Apostólica, para que ele solucionasse, entre outras coisas, a questão financeira do Papado que estava quebrado.
Nomeou-o Legado Papal em missão na França para tratar do caso de Berengário de Tours, cujas declarações sobre a Eucaristia tinha causado uma grande polêmica. Ele afirmava que “não acontece realmente nenhuma transformação, pois o pão e o vinho são apenas símbolos do corpo e sangue de Cristo”, ou seja, a velha celeuma da Transubstanciação contra a Consubstanciação.
Leão IX morto, Hildebrando é escolhido para tratar com o Império e o faz de maneira satisfatório, mas não importa agora as posições e posturas de Hildebrando, mas sim as dele depois de ser eleito papa.
Por incrível que pareça, mas para mim não foi novidade quando li sobre o assunto, já que considero Hildebrando um arrivista dentro da Igreja de Cristo, ele não havia tomado as Ordens, ou seja, não estava incluído nem na Ordem Menor (ostiário, leitor, exorcista e acólito), nem na Ordem Maior (subdiaconato, diaconato, presbiterado e episcopado), era um leigo com funções na Igreja, na hora em que foi escolhido Papa no dia 22 de abril de 1073.
Foi ordenado em 22 de maio, e recebeu a Consagração Episcopal em 30 de junho e com isso pode subir ao Trono de São Pedro, sob o nome de Gregório VII, numa homenagem ao Gregório seu benfeitor que renunciou ao Papado.
Logo ele um campeão contra a Simonia faz homenagem a um Papa que cometeu Simonia...estranho, pois não???
De agora em diante só tratarei o Papa Gregório como Hildebrando Gregório
Chamo atenção de que ele não foi eleito conforme a Bulla In nomine Domini, Em Nome do Senhor, do Papa Nicolau II e cânon do Concílio de Roma, promulgada em 13 de Abril de 1059, estabelecendo como únicos eleitores do Papa eram os Cardeais-bispos, inclusive por ele – Hildebrando Gregório proposta-  mas sim por aclamação do povo de Roma, o que demostra o caráter desse indivíduo.
Por motivos estranhos só comunicou ao Imperador Sacro sua eleição só dois anos depois de entronizado, certamente usou o tempo para aplainar seu caminho e convencer seus inimigos que deveriam se tornar seus aliados, só Deus e o Diabo sabem como foi esse processo. 
Investiu contra os Bispos do Império que foram “escolhidos apenas na base da contribuição paga aos cofres reais ou o imperial”, convocou seu primeiro conselho - em que foram condenados todos os clérigos ordenados por simonia e decidido que os bispos que haviam obtido benefícios em troca de dinheiro, deveriam sair dos cargos imediatamente, ou seriam  excomungados, e aproveitou para desopilar o fígado investindo contra a Nobreza, excomungando Robert de Hauteville, ou  Robert Guiscard, ou Roberto d'Altavilla, o Duque normado que havia invadido  a cidade papal de Benevento , hoje província de Benevento, Região da Campania , esse tornado Duque de Puglia, Calábria e Sicília.
Seu programa político era baseado na separação ou independência total do Papado, da Igreja, do Sacro Império Romano Germânico, e da supremacia Papal sobre os Soberanos do mundo.
Hildebrando era 20 ou 25 anos mais velho do que o jovem Imperador Henrique IV, e se achou no direito de menospreza-lo, até porque o Diadema Imperial estava enfraquecido por brigas internas no Império, no Reich Alemão.
Mais, Henrique se manteve amigo do Papa no início de seu governo.
Hildebrando Gregório, em Concilio, havia investido contra os Bispos que praticaram a Simonia e Henrique nada fez contra eles e como prova de amizade ao Papa, o Imperador rompeu com eles, por tê-los apoiado fez penitencia indo até Nuremberg e confessou seu erro ante ao Legado Papal, onde prestou juramento de lealdade ao Soberano Pontífice e prometeu apoiar o trabalho de reforma da Igreja.
Lobão em pele de Carneirinho.
Henrique venceu os inimigos internos e tomou posição contra Hildebrando Gregório e sua política anti- Soberanos, anti- Imperador Sacro, anti- Simonia, anti- tudo...e “continuou a interferir na vida episcopal italiana e alemã, nomeando bispos à sua vontade e declarando disposições papais ilegítimas”.
Foi um pega pra capar danado.
Hildebrando Gregório contra-ataca com um Dictatus Papae , cujo texto afirmava superioridade do  Papa, do Pontificado, sobre todos os governantes seculares, incluindo o Imperador e mais, afirmava que o Soberano Pontífice tinha “ o direito de depor qualquer governante no tempo e na hora que ele achasse por bem”.
E mais... voltou a proibir expressamente as Investiduras Eclesiásticas por parte do Imperador e outros Soberanos.
Com isso “a relação entre Igreja e Estado foi completamente invertida, pois já não era o Imperador que aprovava a elevação de um eleito ao Trono de São Pedro, a condição de Papa, mas era o Papa que dava ao Imperador o seu Poder e por isso podia retira-lo a seu bel prazer”.
A coisa pegou fogo.
Cencio I Frangipane (também Cencio, Cencius ou Centius ) foi um nobre romano da família Frangipani, uma Clã patrícia, poderosa do século 11 ao 13,  como todo nobre romano, tinha uma pendenga com Hildebrando Gregório e resolveu rapta-lo para assim resolve-la.
Faço mão de um artigo:
O ataque sacrílego contra a pessoa do Papa Gregório VII em Roma no ano de 1075
"Seu autor foi o Consul Cencio, antigo defensor Candalo e dono de uma torre no Tiber na frente de Castel Sant’Angelo. O homem violento e inescrupuloso Cencio era um daqueles capitanei da zona rural romano por seus crimes tinham sido condenados à morte pelo Papa Gregório VII, mas escapou da punição pela intercessão da condessa Matilda de Canossa não pode, todavia, impedir a sua torre no Tiber foi demolido por ordem do papa. Aproveitou a oportunidade para se vingar na véspera de Natal de 1075. Papa Gregório tinha celebrou a missa na igreja para nivem, hoje Santa Maria Maggiore, e enquanto ele estava distribuindo a comunhão, Cencio com seus capangas armados avançaram contra o papa e despojado das vestes sagradas, o colocaram num cavalo e fugiram no meio da noite. Mas o povo romano, que amava o seu pontífice, se mobilizou imediatamente e fechou todas as portas da cidade para que os sequestradores não pudessem se refugiar em algum castelo no Campagna romana. Enquanto as pessoas se reuniram no Capitólio para decidir o que fazer a notícia se espalhou de que o papa era um prisioneiro em uma torre perto do Pantheon. Lá, o povo criou um tumulto em torno da fortaleza. Rag com ameaças de morte havia tentado obter do Papa a doação de uma quantia de dinheiro [pela Torres destruída] mas foi em vão, perdido e se pôs de joelhos e pediu perdão de seu crime. O papa com grande magnanimidade acalmou as pessoas, e protegendo [Cencio] com sua própria pessoa o salvou da fúria da multidão.  Em seguida, ainda sangrando por causa das pancadas, o papa, voltou para a basílica e continuou calmamente o ritual interrompido.
"(Summary parafraseado por Raphael Morghen , Gregório VII , Turim, 1942)
O povo gostava desse membro do povo, mas o soberbo Hildebrando Gregório se esqueceu de que o humor do povo é tão volúvel quanto as nuvens no céu.
Hildebrando Gregório afirmou que esse rapto tinha sido a mando de Henrique IV.
Pelo sim ou pelo não, a data do acontecimento, 25 de dezembro de 1075, para muitos historiadores é citada como o início real da Controvérsia da Investidura.
Na realidade ela começou anos antes, quando Hildebrando Gregório ainda não era nem padre, mas com ele no papado ganhou força e importância.
Enfim, Controvérsia da Investidura é “foi o conflito entre Igreja e Estado na Europa medieval, durante os séculos XI e XII, quando Papas desafiaram os Soberanos europeus na busca de sua supremacia, da supremacia do poder espiritual sobre o poder temporal”.
As Investiduras foi um pretexto, um pretexto valido, pois não só a venda de cargos eclesiásticos por partes dos Soberanos gerava uma corrupção danada, todavia a venda de cargos, também, era feita e continuou a ser feita pela chamada Santa Sé, como, também, qualquer um podia ser ‘investido’ com a poderosa autoridade da Igreja de Cristo nas Basílicas, nas Igrejas locais, e como bispos de cidades e abades dos mosteiros.
O auge da crise foi sem dúvida nenhuma a disputa pelo Poder entre Hildebrando Gregório e Henrique IV, que passou pela excomunhão do Imperador, a Penitencia humilhante dele em Canossa, Roma saqueada, e o Papa Gregório VII exilado em Salerno, onde morreu 25 de maio 1085. Ele foi enterrado na Catedral de Salerno, onde está até hoje.
Essa pendenga só terminou em 1122, quando o Imperador Henrique V e Papa Calisto II concordaram com a Concordata de Worms, mas essa é outra ‘conversa’ e fica pra depois.

 Fim da Parte Final 









  

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