NAPOLEÃO II
O Rei de Roma
Por Pierre-Paul
Prud'hon
Pintor e
desenhista pré-romântico francês.
Napoléon
François Charles Joseph Bonaparte, Napoleon Franz Joseph Karl Bonaparte, Napoleão
Francisco Jose Carlos Bonaparte, nasceu em 20 de Março de 1811, no Palais des
Tuileries, Paris, e morreu de tuberculose em 22 de julho de 1832 no Palácio de Schönbrunn , Áustria,
portanto com 21 anos.
Ao
nascer recebeu o Título de Rei de Roma.
Empereur des Français de jure (Imperador dos Franceses de jure), Prince Impérial , ou Príncipe
Imperial , Príncipe de Parma e por fim Duque de Reichstadt.
Tinha a saúde frágil, era um garoto
magro, alto com quase um metro e noventa, de beleza delicada e melancolia,
envolta numa auréola de mártir, já que era filho de um Imperador e de uma mãe tresloucada,
ganhou a simpatia e compaixão de muitos membros da Corte de Viena, especialmente
sua tia Sophie da Baviera.
Napoleão derrotado em Waterloo,
na Bélgica, no dia 18 de junho de 1815 - batalha que marcou o final dos cem
dias de seu retorno, iniciados com o celebre “Voo da Águia” ( Vol de l’Aigle ) - abdicou em 21 de junho de
1815, no Palácio do Eliseu, Paris, em
favor de seu filho que logo foi aclamado pelos bonapartistas como
Napoleão II.
Essa foi à segunda abdicação
de Napoleão I em favor de seu filho, pois em 4 de abril de 1814, no Palácio de
Fontainebleau, assinou a primeira.
Esse fato se deu após a
derrocada de seus Exércitos na Rússia, na Batalha das Nações (a mais terrível
de todas no contexto da Guerras Napoleônicas - 16 – 19 de outubro de 1813), nas
denominadas “Campanha de França ou Batalha de França – outubro de 1813 até
março de 1814” (La campagne de France).
Essa abdicação e aclamação de
Napoleão II porem foi anulada por força do Tratado de Fontainebleau de 14 de
abril de 1814 (rascunhado em 6 de abril), no qual Napoleão “renunciou por si e
por seus sucessores e descendentes, bem
como para cada membro de sua família, qualquer direito de soberania e de
dominação, tanto o Império francês e do Reino da Itália, mantendo os Títulos
Imperiais, e recebendo a propriedade e soberania da Ilha de Elba, como
Principado de Elba”.
Por esse Tratado Napoleão II recebeu o Título de Príncipe de Parma, ato
que posteriormente revogado pelo Congresso de Viena.
1813
Por Gérard
François Pascal Simon, Baron Gerard
Estudante de
Jacques-Louis David
Um dos pintores
mais importantes do Primeiro Império e da Restauração.
Acontece que em 23 de abril de
1814, Maria Luiza, “carregando na bagagem” o filho, abandona a França e vai
para Viena, para a Corte de seu pai, onde é informada que poderá ostentar o Título
de Duquesa de Colorno, uma localidade da Região da Emilia-Romagna, província de
Parma.
Posteriormente o Congresso de
Viena restabeleceu o Ducado de Parma, Piacenza e Guastalla e sua Soberania foi
dada a Maria Luiza, que não levou seu filho Napoleão para com ela lá viver,
deixando-o aos cuidados da dupla Francisco I/ Metternich.
Maria Luiza na realidade jamais
teve vontade de encontrar Napoleão em seu exilio na Ilha de Elba, apesar de
alguns de seus escritos - ainda sob o impacto da queda do Império Francês- demonstrarem
o contrário, pois ela não gostava de Napoleão, aquém sua família chamava de “Ogro”,
e só casara com ele por dever dinástico.
A prova provada disso é que logo
caiu nos braços do Conde Adam Albert Neipperg, colocado com seu ajudante de
ordens e guardião por seu pai, o Imperador Francisco I, de conluio com o
Príncipe de Metternich.
Depois de amancebada com Neipperg,
Maria Luiza escreveu a Louise Antoinette Scholastique Guéheneuc, La Maréchale
Lannes (Marechala Lannes), Duquesa de Montebello , sua ex-Dama de Honra,
revelando que ela nunca iria para Ilha
de Elba, nunca ( “Je n'irais pas pour le moment dans l'isle d'Elbe et je
n'irais jamais”) .
Depois que se tornou Soberana
do Ducado de Parma, Piacenza e Guastalla, na Itália, com o nome de Maria Luigia,
viveu abertamente com Neipperg, governador do Ducado.
O casal teve três filhos, que
são considerados ilegítimos, mesmo depois do casamento morganático celebrados
por eles em segredo no dia 8 de agosto de 1821, isso é após a morte de Napoleão
em 5 de Maio de 1821, porque tal matrimonio feria as Leis da Dinastia de
Habsburgos, das Casas Reais em geral, já que Neipperg era um Conde e não um
Príncipe de Sangue Real.
Foram eles:
1-Albertina,
Condessa de Montenuovo, que casou com Luigi Sanvitale, Conde de Fontanellato
2-Guilherme Alberto,
Conde de Montenuovo, depois Príncipe da Montenuovo, que casou com a Condessa
Juliana Batthyány von Németújvár, e que teve grande influência na Corte de
Viena.
3- Matilde, Condessa
de Montenuovo, que faleceu com um ano de idade.
Como não podiam ser Habsburgo-
Neipperg passaram a ser conhecidos como membros da Casa de Montenuovo, numa
tradução de Neipperg para o italiano.
Napoleão II ao saber da
situação da mãe, de seu casamento com Neipperg – que ficou sabendo pelo
Imperial-avô em uma das visitas do Conde-governador a Viena que era seu
padrasto- e dos novos irmãos, suspendeu toda a correspondência com Maria Luiza,
agora Maria Luigia.
Maria Luiza era irmã de Dona
Leopoldina, a “Mãe da Nacionalidade Brasileira”, nossa primeira
Imperatriz.
Klemens Wenzel Lothar Nepomuk
von Metternich, Príncipe de Metternich-Winneburg-Beilstein,ou simplesmente
Príncipe de Metternich, responsável
pelos negócios do Império Austríaco,
líder das Nações vencedoras reunidas no
Congresso de Viena (2 de maio de 1814 e 9 de Junho de 1815),
posteriormente guardião dos princípios ( legitimidade, equilíbrio e restauração
das antigas Casas reinantes) nele
estabelecidos através da “ Santa
Aliança”, “aliança político-militar reunindo exércitos de Rússia , Prússia e
Áustria prontos para intervir em qualquer situação que ameaçasse o novo “established
“ na Europa ”, não o permitiu que fosse entregue a seu pai, exilado em Elba,
com medo de uma “ restauração bonapartista” - fato que se deu com Napoleão III
muitos anos depois.
Destaco que Metternich “apoiou
vigorosamente a Restauração da Dinastia dos Bourbon em França”, logo um
Bonaparte no Trono Imperial Francês nem pensar.
Porem ele tinha uma “batata
quente nas mãos” que era Napoleão II, o neto de seu “patrão” por quem esse se afeiçoara,
daí que aconselhou ao Imperador Francisco I da Áustria, avô do cognominado
“l'Aiglon”, o “filho da Águia”, que o elevasse a condição de Alteza Sereníssima
o Duque de Reichstadt.
Reichstadt era uma cidade
pequena em Bohemia e agora é chamado Zákupy e faz parte da República Checa. Seu
nome alemão que significa "cidade imperial".
Francisco I, convencido, queria
dar-lhe um título, armas, rendas, que permitisse ao neto manter com dignidade sua
posição na Corte, para isso elevou a cidade de Reichstadt a condição de Ducado
hereditário e em sendo assim garantiu uma substancial renda para seu neto.
Pelo rígido ‘Protocolo de
Corte’, a Corte da Áustria era rigidíssima, quando ao uso dele, o Duque de Reichstadt estava situado imediatamente após os Arquiduques
da Áustria, Príncipes de sangue do Império Austríaco.
O agora chamado FRANZ, nome
recebido por causa de seu avô materno, em detrimento aos demais nomes que
homenageavam o pai, o avô paterno, e um de seus tios, fez carreira nas tropas
do Imperador da Áustria, ou seja, no exército tradicionalmente inimigo da
França e de seu pai, o Imperador dos Franceses.
Em 1822 seu avô o nomeou Korporal,
em francês é "Caporal", no Brasil seria Cabo, e nessa ocasião
Napoleão II apareceu pela primeira vez na Corte usando um uniforme militar.
O engraçado é que Napoleão I, no começo de sua
carreira, foi um dia chamado de “Petit Caporal”.
Em 17 de agosto de 1828 foi
nomeado Capitão no Regimento de Tiroler Kaiserjägers (caçadores tiroleses do
Imperador).
Maria Luiza, num rasgo de
generosidade e tentativa de aproximação, lhe enviou o sabre paterno, o famoso “Sabre
das Pirâmides” (le sabre des Pyramides, hoje no acervo Museu do Exército em Les
Invalides-Paris).
Depois de participar das
manobras de campos dos Caçadores tiroleses, onde se destacou, no início de
julho de 1830, foi nomeado Coronel no Regimento Lamezan-Salins (n° 54).
14 de junho de 1831, foi
destacado para servir Regimento de Infantaria Húngara n º 60.
Apesar do presente materno ele
de muito não tinha a mãe lá em grande conta.
O Conde Anton von
Prokesch-Osten em suas memorias (As Minhas Relações com o Duque de Reichstadt -
Mein zum Verhältniß Herzog von Reichstadt-
Paris-1872) nos revela que
Napoleão II dize a ele que se sua mãe fosse Josefina nem o pai acabaria na Ilha
de Santa Helena, nem ele estaria naquelas condições na Corte Avoenga e mais,
que sua mãe era uma criatura de uma espécie inferior, mais fraca, e que “ela
não era a esposa que meu pai merecia”.
Por essa revelação histórica
podemos deduzir que Napoleão II não era lá muito feliz na Corte de Viena, o
próprio Conde revelou que ele era um puro sangue entre “dois cavalos de tiro da
Boemia e um cavalo de fiacre italiano” (« pur-sang entre deux chevaux de
trait de bohême et un cheval de fiacre italien »).
Contudo parece que ele
encontrou o amor.
Abandonado pela mãe, apreciado,
mas quiçá incompreendido, pelo avô que queria fazer dele um Príncipe Habsburgo,
ao contrair tuberculose foi assistido pela Arquiduquesa Sophia, citada acima, nos
últimos meses de sua vida e foi com ela que encontrou esse amor.
Seu tio Arquiduque Franz Karl
Joseph (Francisco Carlos José), terceiro filho do Imperador Francisco I, irmão
de sua mãe nascido em 1802, era “um tanto débil mental”, contudo ele não era o
Herdeiro da Coroa Imperial Austríaca, pois antes dele havia Ferdinand (Ferdinando
ou Fernando), nascido em 1793.
Foi escolhida para ser sua
esposa Frédérique Wilhelmina Sophia Dorothea, da Casa de Wittelsbach, Princesa
da Baviera, depois Arquiduquesa da Áustria, ou simplesmente Arquiduquesa
Sophia, e se casaram em 4 de novembro de 1824.
Sophia, Arquiduquesa da
Áustria , nascida Princesa da Baviera, da Casa de Wittelsbach,
Note-se que a Arquiduquesa
Sofia, como seu pai o Rei Maximiliano I da Baviera, da Casa de Wittelsbach, que
devia seu Trono Real a Napoleão I, era uma fervorosa bonapartista.
Fernando I, que era epilético
e tinha um problema de fala, casou-se com a Princesa Ana Maria Carolina Pia de
Savoia, filha de Vítor Emanuel I, Rei da Sardenha, mas não o consumou.
O governo era exercido por um
Conselho - composto entre outros pelo Príncipe de Metternich- que era odiado
pelos povos do vasto Império e como não podia deixar de ser acabou acontecendo
uma revolução, a Revolução de 1848.
Uma de suas consequências além
da fuga de Metternich para Inglaterra, foi que Fernando I foi convencido pelo Príncipe
Felix zu Schwarzenber, que havia conseguido dominar a revolução, a abdicar em favor de seu sobrinho, Franz
Joseph ( Francisco José I) que iria ocupar o trono austríaco para os próximos
68 anos.
Acontece que para essa
abdicação fosse legal se fazia necessário que o Arquiduque Francisco Carlos, o
segundo na Linha de Sucessão, renuncia-se a seus Direitos em favor de seu filho.
Não deu outra, Sophia obrigou
ao marido a renunciar os seus direitos ao Trono em favor de seu filho Francisco
José, fato que ocorreu em 2 de dezembro de 1848, e que teve como resultado a Arquiduquesa
ganhar o epiteto de "o único homem na família ".
Portanto Sophia é a mãe Sua Majestade
Imperial e Apostólica, Francisco José I
(Franz Joseph I), pela Graça de Deus Imperador da Áustria, Rei da
Hungria e Boêmia, Dalmácia, Croácia, Eslavônia, Galiza, Lodomeria e Illyria,
Rei de Jerusalém, Arquiduque da Áustria, Conde do Principado de Habsburgo e
Tirol, de Kyburg, Gorizia e Gradisca,
Grão- Príncipe da Transilvânia, Príncipe de Trento, de Bressanone, de
Berchtesgaden ,de Mergentheim, Grão-Duque da Toscana e Cracóvia, Duque de
Lorena, Salzburg, Würzburg, Francônia, Estíria e Caríntia, Carniola e Bucovina,
Duque da Silésia superior e inferior, de Modena, de Parma, de Piacenza, de
Guastalla, de Auschwitz, de Zator, de Teschen, de Friuli, de Ragusa, de Zara, Margrave
da Morávia de Lusatia superior e inferior, de Istria, Conde de Hohenems, de Feldkirch, de Bregenz, de
Sonneberg, Senhor de Trieste, de Kotor e Caminhe por Windisch, Grand Voivode da
Voivodship da Sérvia, marido de sua querida Sissi .
A Arquiduquesa Sophia nasceu
em 27 de janeiro de 1805 e Napoleão
II em 20 de Março de 1811, portanto a diferença entre os dois era de seis (6) anos,
o que não era muito assim, mas em se tratando de tia e sobrinho o caso se
tornou um tanto ou quanto sobre o alcantilado.
Um outro filho de Sophia foi Maximiliano
de Habsburgo-Lorena, Arquiduque da Áustria, Príncipe da Hungria e da Boêmia,
portanto reconhecido como filho do casal Francisco Carlos e Sophia, morreu fuzilado
como Imperador do México, empreitada desastrosa patrocinada por Napoleão III,
Imperador dos Franceses.
Acontece que historicamente se
diz que Maximiliano, que nasceu em 6 de julho de 1832, portando 16 dias antes
da morte de Napoleão II (22 de julho de 1832) era filho do Duque de Reichstadt
com a Arquiduquesa Sophia, mais um
Wittelsbach /Bonaparte nessa Europa tão conturbada.
Devemos nos lembrar de que a irmã mais velha de Sophia era
a Princesa Augusta da Baviera, casada por ordem de Napoleão, com o Príncipe
Eugênio de Beauharnais, filho da Imperatriz Josefina adotado por Napoleão e que
eles são os pais de nossa terceira Imperatriz, Dona Amélia (Dona Amélia Augusta
Eugênia Napoleona de Beauharnais - Amélie Auguste Eugénie Napoléone de
Beauharnais), Princesa de Leuchtenberg.
Voltemos...
Morto o “Duque de Reichstadt
foi vestido em seu uniforme branco de coronel do regimento de infantaria, sendo
apresentado ao público em um caixão”, tendo “oficiais da Guarda Imperial formado
uma a guarda de honra em volta do féretro. Uma grande multidão, apesar da hora
tardia, veio para ver o corpo”.
Foi levado com toda honra e
pompa para a Franzensgruft, no espaço ou Cripta destinada a família do
Imperador Francisco I, na Igreja de Santa Maria dos Anjos, da Ordem dos
Capuchinhos, daí conhecida como Igreja dos Capuchinhos, em Viena, onde estão os
túmulos da Casa de Habsburgo desde 1633.
Em 1940 Napoleão II retornou a
sua cidade natal, Paris.
Otto Abetz, Embaixador do III
Reich em Paris, considerou que a volta dos restos mortais de Napoleão II seria
de bom alvitre para melhorar as relações com o Governo de Pétain, Governo de
Vichy, e aconselhou a Adolfo Hitler que tomasse tal atitude.
Em 15 de dezembro de 1940, “data escolhida para
acontecer 100 anos depois do retorno das cinzas de Napoleão
I que ocorreu em 15 de
dezembro de 1840”, os oficias do
III Reich, apesar de discreta, sem alarde, mas numas dessas cerimonias militares que só os alemães
sabem promover, depositaram as cinzas de Napoleão II no L’hôtel des Invalides,
sob uma lapide onde está escrito “ Napoléon II - Roi de Rome / 1811- 1832”.
Chamo atenção que era costume
entre os Habsburgos separar o coração e as vísceras dos retos do corpo do
defunto e enterra-los em outro local, no caso de Napoleão II seu coração e suas
vísceras permaneceram em Viena, o primeiro na Herzgruft (cripta do coração) sob
o número 42, e o segundo numa urna da Cripta Ducal sob o número 76.
Franz, como ficou sendo
chamado na Corte de Viena Napoleão II, não faz parte da lista do agraciados com
a Ordem do Tosão de Ouro da Áustria, apesar de que essa condecoração pertencia
aos Habsburgos.
Assim se conta a História
daquele que nasceu para ser o Herdeiro do Senhor da Guerra e da Europa, rebento
único do “Filho dileto da Fortuna” e de uma Princesa da milenar Casa de
Habsburgo.
Assim se conta a História de Napoleão
II – Rei de Roma, Empereur des Français de
jure (Imperador dos Franceses de jure),
Prince Impérial (Príncipe Imperial), Príncipe de Parma, historicamente, também,
conhecido como Franz, Herzog von Reichstadt - filho de Napoleão Bonaparte e da Arquiduquesa
Maria Luiza de Habsburgo, Imperadores dos Franceses, Reis da Itália.
O Duque de
Reichstadt em seu leito de morte no Palácio de Schönbrunn,
na mesma sala que seu pai ocupou
depois dos triunfos de Wagram e Austerlitz,
por Johann Nepomuk Ender.
Túmulo de Napoleão II
na cripta dos Invalides.
Nenhum comentário:
Postar um comentário